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Nos últimos dias tem sido comum ver o dólar renovar seus recordes nominais. Desde que o preço da moeda norte-americana passou dos R$ 6, só fez aumentar, chegando no pico de R$ 6,27 nessa quarta-feira (18). Para além das implicações políticas e no mercado financeiro, o impacto de um dólar tão alto é, principalmente, no bolso do brasileiro.

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A moeda do Brasil é o real, mas quase tudo que é comercializado por aqui tem uma parcela de dólar envolvida. E esse repasse tende a ser cada vez mais rápido e intenso, diz o economista da XP, Alexandre Maluf.

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Do alimento ao combustível, do celular às roupas, em alguma medida, o preço do dólar está embutido, explica o professor da FIA Business School Carlos Honorato. “Um aumento de mais de 25% do dólar no ano acaba tendo impacto em tudo, na cadeia inteira do produto. Isso gera uma inflação cambial que é muito difícil de fugir ou reverter“, diz Honorato.

Mas como isso funciona? O trigo do pãozinho é importado, o que significa que o produtor tem que comprar a matéria-prima em dólar. Se de um mês para o outro o dólar passou de R$ 5,80 para R$ 6,20, essa diferença de preço vai ser repassada para o consumidor final.

Essa lógica funciona para muitos alimentos, inclusive os que são produzidos no Brasil. Neste caso, fica mais interessante para os produtores exportarem. Com o dólar mais caro, a mesma tonelada de carne de um mês atrás sai mais cara e aumenta o lucro.

O impacto nos alimentos é generalizado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos 12 meses, o preço das carnes aumentou 15%. Para Maluf, uma parcela dessa alta já é por causa do dólar.

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E não aconteceu só com as carnes. Arroz (+15,87%), feijão fradinho (+19,44), leite longa vida (+20,38%), óleo de soja (+27,75%), café moído (+32,66%), itens gerais da cesta básica que já enfrentam pressões inflacionárias. Com a disparada do dólar, o cenário deverá piorar ainda mais.

“É como jogar gasolina. Vai incendiar o que já está pressionado”, diz Honorato. “Uma conta que sempre chega para a população mais carente.”


Segundo o professor da FIA, diferentemente da população mais rica, que consegue aplicar seu salário em produtos financeiros para se proteger da inflação, a população mais pobre não consegue e sente o reajuste dos preços mês a mês, vendo o dinheiro que fazia uma compra completa não ser suficiente com o passar do tempo.

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“Já vimos isso antes. As opções são ir ao mercado assim que receber o salário ou fazer um estoque. O nível não é crítico a esse ponto, mas uma alta superior a 20% no câmbio não vai passar despercebida”, diz o professor da FIA.

Além da alimentação outros dois componentes que são importantes na composição mensal da população mais pobre: aluguel e combustíveis.

A gasolina já acumula um aumento de 8,75% em 12 meses até novembro. A cotação do petróleo Brent, que é a base do preço da gasolina, está em US$ 73, o mesmo nível observado em janeiro. Mas aí entra o fator dólar, que é a moeda de negociação do petróleo. E não só, do diesel também.

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“Ninguém olha muito para o diesel, mas é o combustível que abastece o transporte público, máquinas agrícolas e caminhões de frete. O preço do diesel está 15% defasado em relação aos valores internacionais e isso é um impacto indireto que se soma ao aumento do dólar”, a importação de diesel é maior do que a de gasolina.

O aluguel é outro caso de impacto indireto. A maior parte dos alugueis faz o reajuste de acordo com o índice de preços IGPM, que considera o impacto de preços da construção civil e ao produtor. Enquanto a inflação oficial, medida pelo IPCA, foi de 4,87% em 12 meses, a do IGPM chegou a 6,33% em novembro – com dois meses consecutivos, outubro e novembro, registrando variações mensais acima de 1%.

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“É mais um caso de impacto indireto, em que o reajuste do dólar nos preços de construção civil e para os produtores se reflete no índice, que serve de indexador para o reajuste de aluguel”, explica o economista da XP.

Se o dólar se manter no nível de R$ 6,20 consistentemente ao longo do ano, a projeção de inflação aumenta para 5,90% – o nível mais alto desde 2021 com a Pandemia mundial de COVID19 e próximo ao de 2022 (5,79%), quando o país e o mundo sofriam com os impactos da pandemia.

“Estamos falando de um aumento de 0,70 ponto percentual em função de uma pressão cambial causada pela gestão Lula. É um aumento muito considerável”, diz o economista.

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O professor de economia da FGV EAESP, Renan Pieri, acredita que a única forma de estabilizar o dólar é por meio de uma comunicação assertiva do governo Lula com o mercado financeiro. “O governo ainda precisa convencer o mercado de que está comprometido em estabilizar a dívida, reduzir gastos e, com isso, viabilizar um cenário mais estável com juros menores”, diz Pieri.

Honorato acredita que exista algum grau especulativo que também se soma à incerteza internacional. A chegada de Donald Trump à Casa Branca em janeiro é um risco internacional que tem fortalecido o dólar no mundo. Enquanto Lula enfraquece o Real no Brasil.

“Muito se fala, mas mercado financeiro não tem ideologia. Se subir demais, o Brasil fica muito barato e o capital estrangeiro entra e cai. Tem muita coisa em risco no Brasil’.

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Não que o governo local seja isento. A solução, para Honorato, é só uma: clareza. Da parte do governo Lula sendo mais firme em relação ao seu compromisso fiscal, sem ruídos da base, e da parte internacional, após a posse de Trump.

“Dólar é reflexo de expectativas futuras. Se as expectativas se frustram e o cenário futuro é incerto, a resposta é comprar dólar.”

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