O Tribunal de Contas da União (TCU) voltou ao centro de um novo escândalo envolvendo as fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas do INSS. Um dos carros de luxo apreendidos pela Polícia Federal na operação contra o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, estava registrado em nome de Thallys Mendes dos Santos de Jesus, esposa do ministro do TCU Jhonatan de Jesus, apadrinhado por Arthur Lira.
Em nota ao portal Metrópoles, Jhonatan afirmou que o carro foi adquirido legalmente pelo sogro e vendido posteriormente ao lobista investigado.
“Nós entregamos o carro antes e foi pago antes de qualquer operação [da PF]. Não tinha nada que desabonasse, era um processo de venda normal.” Antes de assumir vaga no TCU, Jhonatan era deputado federal pelo Republicanos, mesmo partido de Hugo Motta (Rep-PB), presidente da Câmara e aliado do governo Lula. Motta tem resistido a pedidos por uma CPI para investigar o escândalo.
Outro personagem do caso também tem trajetória ligada ao Republicanos: Jerônimo Arlindo, conhecido como Junior do Peixe, ex-dirigente da Conafer, entidade acusada de forjar documentos para descontar ilegalmente valores de aposentados. De um faturamento modesto de R$ 400 mil em 2019, a Conafer saltou para R$ 202 milhões em 2023. Junior do peixe foi ligado ao Ministério da Pesca nos governos Dilma e Ricardo Coutinho (PT) antes de integrar o gabinete de Hugo Motta em 2020.
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Parlamentares que atuaram para facilitar o roubo dos aposentados no INSS
O movimento começou com uma medida provisória editada ainda no governo Bolsonaro, em janeiro de 2019, que previa revalidação anual das autorizações de desconto repassadas a associações de aposentados. A proposta visava a combater fraudes e manter atualizados os cadastros — exatamente o tipo de brecha que hoje está no centro das denúncias.
A reação no Congresso foi imediata. Deputados de diversos partidos apresentaram emendas para derrubar ou flexibilizar a medida. A maioria defendia que a revalidação ocorresse apenas a cada cinco anos. Outros foram além e tentaram suprimir integralmente o artigo que endurecia as regras de controle (artigo 25 da MP).
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Entre os 31 nomes, 11 são do PT, partido do presidente Lula. Também aparecem cinco deputados do Psol, três do PSB, dois do PCdoB, dois do MDB, dois do Republicanos, dois do PSDB, e um parlamentar de partidos como Solidariedade, PL, PDT e PSC. A base aliada do atual governo aparece, assim, como protagonista na flexibilização do controle que hoje é alvo de inquéritos federais.
Parlamentares envolvidos incluem:
- Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), Heitor Schuch (PSB-RS), Daniel Almeida (PCdoB-BA), Zé Neto (PT-BA), Luiz Carlos Motta (PL-SP), Patrus Ananias (PT-MG), Hildo Rocha (MDB-MA), Paulo Paim (PT-RS), Tereza Nelma (PSDB-AL), entre outros.
- Também atuaram Marcelo Freixo (Psol-RJ) e Wolney Queiroz (PDT-PE) — atual ministro da Previdência.
No argumento dos parlamentares à época, a revisão anual seria “burocrática” e interferiria na liberdade de associação dos aposentados. O Planalto cedeu e aceitou as mudanças, deixando os mecanismos de fiscalização mais frágeis — exatamente como as entidades suspeitas queriam.
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Hoje, entidades como a Conafer são investigadas por aplicar descontos até 180% acima do autorizado nos contracheques de aposentados. O rombo provocado pela prática ilegal ultrapassa R$ 277 milhões, e cresce a cada novo dado revelado pela PF e pela CGU.
Não por acaso, o nome de vários dos parlamentares que atuaram pela flexibilização voltou à tona. Wolney Queiroz, que atuou para enfraquecer a medida em 2019, ocupa hoje o cargo de ministro da Previdência.