O governo dos EUA pode enfrentar um novo “shutdown” caso o Congresso não chegue a um acordo sobre o orçamento até terça-feira 30, último dia do ano fiscal. O termo se refere à paralisação parcial das atividades governamentais por falta de recursos, o que atinge desde o funcionamento de agências federais até o pagamento de funcionários considerados “não essenciais”. A origem do mecanismo está na lei Anti Deficiência, de 1884, que proíbe agências federais de gastarem acima do autorizado sem a aprovação do Congresso. Anualmente, os parlamentares precisam aprovar 12 leis de dotações que que financiam os gastos públicos. Se não há consenso, setores sem verba aprovada entram em paralisação.
O risco é real e foi reconhecido pelo próprio presidente Donald Trump (Partido Republicano), que declarou que uma paralisação do governo “pode ser, sim” provável diante de um impasse com os democratas. “O próprio mercado está apostando em um shutdown nos EUA”, explicam especialistas.
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A Câmara já aprovou uma extensão dos gastos até novembro, mas no Senado a maioria republicana precisa de votos democratas para aprovar a lei. O problema é que os lados discordam sobre como estruturar o orçamento. Os republicanos, pressionados pela ala mais conservadora do partido, querem cortes mais profundos em programas sociais e redução de gastos federais. Argumentam que o deficit do governo está em trajetória insustentável.
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Já os democratas defendem a manutenção de investimentos em saúde, educação e infraestrutura, afirmando que os cortes propostos pelos republicanos prejudicariam diretamente milhões de famílias norte-americanas. Sem consenso, nenhuma das propostas avança. “Enquanto as negociações seguem paradas, a Casa Branca ordenou que agências se preparem para demissões em massa, indo além das licenças temporárias de shutdowns anteriores”, afirmou Freddo.
Apesar da tensão, ainda há alternativas. Uma é aprovar o pacote completo de orçamento para o ano fiscal de 2026, que vai de outubro de 2025 a setembro de 2026. Outra é aprovar uma medida temporária conhecida como continuing resolution, que mantém os níveis de gasto atuais por algumas semanas ou meses até que se chegue a um acordo definitivo.
Se houver paralisação, os efeitos serão sentidos rapidamente nos EUA. “As consequências incluem redução temporária do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), atraso de serviços públicos e processos regulatórios, servidores não essenciais em licença não remunerada ou mesmo cortes definitivos, suspensão ou adiamento de contratos governamentais e ampliação da percepção de risco político”, disse a economista.
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Nos mercados financeiros, a paralisação tende a aumentar a volatilidade de ações, juros e câmbio. Também provoca busca por ativos de refúgio, como Treasuries e ouro, e penaliza setores dependentes de contratos ou aprovações do governo. O impacto costuma ser limitado se a paralisação for curta, mas a ameaça de demissões em massa aumenta a gravidade potencial.

O calendário fiscal ajuda a explicar por que esses embates se repetem. Diferente do calendário civil, que vai de janeiro a dezembro, o ano fiscal norte-americano termina em 30 de setembro. Segundo Freddo, isso “cria um prazo fixo que concentra as negociações e aumenta a pressão para soluções temporárias, como a proposta de extensão do financiamento até 21 de novembro”.
Embora os mercados normalmente se recuperem depois de um acordo, “a escalada de retórica (como a troca de acusações entre Trump e líderes democratas e a ameaça explícita de demissões em massa) reforça a percepção de instabilidade e preocupa investidores pela sinalização de que a governabilidade norte-americana está cada vez mais sujeita a confrontos partidários”, concluiu.
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O que Biden fez para evitar o shutdown em seu governo?
O shutdown do governo americano durante a era Biden tem sido um desafio recorrente, marcado por negociações difíceis entre o governo democrata e a maioria republicana na Câmara dos Representantes. Em dezembro de 2024, o governo quase enfrentou um shutdown, mas a paralisação foi evitada quando o presidente Biden sancionou uma lei aprovada pelo Congresso que garantiu o financiamento do governo até 14 de março de 2025. Essa lei incluiu US$ 100 bilhões para estados atingidos por desastres e US$ 10 bilhões para fazendeiros, mas não aumentou o teto da dívida, uma demanda que o presidente Trump, reeleito para 2025, pressionava antes de assumir.
O shutdown nos EUA acontece quando o Congresso não aprova o orçamento necessário para financiar o governo federal, o que interrompe serviços públicos e suspende os salários de milhões de funcionários federais, afetando desde a aplicação da lei até parques nacionais. Durante a era Biden, um ponto sensível nas negociações tem sido a questão imigratória e cortes nos gastos, com republicanos buscando reduções significativas em orçamento e uma legislação mais dura na fronteira sul.
Em setembro de 2025, novas tensões surgiram com o risco de outra paralisação se os legisladores não concordarem com o financiamento após o fim do prazo em 30 de setembro, mostrando que a crise orçamentária permanece como um desafio constante na administração Biden. O histórico recente inclui aprovações temporárias para evitar shutdowns imediatos, mas o impasse político persiste, refletindo as divisões no Congresso e a complexidade das negociações fiscais nos EUA.
Biden empurrou o problema para o governo Trump
A solução do shutdown adotada na era Biden, que envolveu a aprovação de medidas temporárias para manter o governo financiado até determinados prazos, tem aumentado os problemas para 2025 por criar um ciclo de impasses orçamentários contínuos. Essas medidas de curto prazo, conhecidas como stopgap, evitam o shutdown imediato, mas não resolvem as divergências estruturais sobre gastos públicos, teto da dívida e políticas de imigração, mantendo a tensão política elevada. Isso gera incertezas frequentes sobre o financiamento do governo, prejudica a economia, aumenta o custo da gestão pública e pode causar paralisações abruptas repetidas.
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Além disso, o custo financeiro dessas paralisações é alto: além do pagamento retroativo aos funcionários federais durante o shutdown, há perdas de arrecadação, desperdício de recursos e impactos negativos no crescimento econômico, como perda de bilhões de dólares no PIB que não são recuperados. A retomada dos serviços após o shutdown também é custosa, pois leva tempo e recursos para reorganizar operações suspensas, o que eleva ainda mais os gastos.
Portanto, a solução adotada para o shutdown sob Biden, ao focar em soluções temporárias e parciais, principalmente durante 2024, acabou criando um contexto complicado para Trump em 2025, com novos riscos de paralisações, custos elevados e dificuldades políticas para chegar a acordos definitivos no Congresso.