Os irmãos Joesley e Wesley Batista acabam de dar os primeiros passos no setor de energia nuclear. A J&F abocanhou toda a fatia da Eletrobras (ELET3) na Eletronuclear por R$ 535 milhões, segundo anunciaram as companhias nesta quarta-feira (15). Fundada em 1997, a Eletronuclear é a empresa responsável pelo Complexo Nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
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O negócio está sujeito à aprovação dos órgãos reguladores. A operação foi assessorada pelo banco BTG Pactual e começou em 2023.
O acordo prevê que a holding dos Batista assumirá as garantias prestadas pela Eletrobras em favor da Eletronuclear e adotará as providências necessárias com os credores e parceiros da empresa.
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Além disso, a J&F se tornará responsável pela integralização das debêntures que fazem parte do termo de conciliação firmado com a União, no valor de R$ 2,4 bilhões. Com isso, a Eletrobras ficará totalmente livre de eventuais responsabilidades remanescentes com a Eletronuclear.
As ações da Eletrobras abriram o dia em alta. Por volta das 11h30, as ações ordinárias (ELET3) subiam 2,18%. Já as ações preferenciais (ELET6) subiam 2,82% no mesmo horário.
Quem é a Eletronuclear
A Eletronuclear é responsável pelas usinas Angra 1, 2 e 3. Hoje, apenas duas das usinas estão em operação: Angra 1 (640 megawatts) e Angra 2 (1350 megawatts). Isso porque a empresa ainda tem a obrigação de construir Angra 3.
Segundo o site da companhia, ela é responsável pela geração de aproximadamente 3% da energia elétrica consumida no Brasil. No âmbito estadual, a empresa afirma fornecer mais de 30% da eletricidade consumida no Rio de Janeiro.
No ano passado, a empresa teve R$ 4,23 bilhões em receita operacional líquida, com R$ 544,79 milhões de lucro, e tem 1.926 funcionários.
Em 2022, a empresa passou a ter uma nova estrutura societária. Com sua privatização, a Eletrobras, que detinha 99,91% das ações, passou a deter 68% de participação, enquanto a Empresa Brasileira de Participações em Energia (ENBPar), tem 32,05% do total de ações.
No ano passado, a empresa investiu pesadamente para estender a vida útil da usina de Angra 1 por mais 20 anos. “Esse êxito representa um passo fundamental para a segurança energética do país, embora ainda tenhamos muitos desafios a enfrentar”, disse o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo Leite, em comunicado de divulgação de resultados.
Já a usina Angra 3 está prevista para ser concluída como uma réplica de Angra 2, com uma geração potencial de 1405 megawatts. Agora, a J&F assume junto ao governo federal a tarefa hercúlea de tirar o projeto do papel.
O problema de Angra 3
Um dos motivos para a venda da Eletronuclear é o custo da usina de Angra 3 — que começou a ser construída em 1984 e até agora não foi finalizada. Atualmente, 67% da obra está concluída. Manter a obra parada custa R$ 1 bilhão por ano à companhia.
Quando finalizada, a usina de Angra 3 terá um potencial de geração de energia de 1,4 gigawatts, o que é o dobro da capacidade de geração de Angra 1 e será o suficiente para atender 4,5 milhões de pessoas.Um estudo realizado pelo BNDES a pedido da Eletronuclear, divulgado em 2024, indicou que o custo para retomar as obras de Angra 3 seria de R$ 23 bilhões. Esse valor é ligeiramente superior ao custo estimado para abandonar completamente o projeto, de R$ 21 bilhões. O total investido até agora é de R$ 7,8 bilhões.

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J&F diversifica atuação em energia
A transação marca um passo importante para a J&F na sua estratégia de expansão no setor de energia. O conglomerado dos Batista já tem seu nome gravado no segmento por meio da Âmbar Energia, que atua em diversas frentes: geração, transmissão e comercialização de energia.
A Âmbar se apresenta hoje como a segunda maior geradora privada de energia a gás natural do Brasil em capacidade instalada — e segue ampliando seu portfólio.
Atualmente, a companhia conta com 50 ativos, que englobam uma ampla gama de negócios, incluindo geração hidrelétrica, solar, biomassa, biogás, além das térmicas a gás natural e carvão mineral.
Foi justamente por meio da Âmbar Energia que a J&F adquiriu hoje a participação na Eletronuclear, marcando a entrada da companhia na geração de energia nuclear, de acordo com o comunicado.
“A energia nuclear combina estabilidade, previsibilidade e baixas emissões, características fundamentais em um momento de descarbonização e de crescente demanda por eletricidade impulsionada pela inteligência artificial e pela digitalização da economia”, afirma Marcelo Zanatta, presidente da Âmbar Energia, em comunicado.
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O que dizem os analistas
Na avaliação de Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, embora o montante da transação seja pouco representativo para a Eletrobras, a venda da Eletronuclear para a J&F tem um impacto líquido bastante positivo.
“A Eletronuclear tem sido um problema há décadas para a Eletrobras, seja pela falta de resultados ou pelas obrigações bilionárias na construção e manutenção das usinas”, avaliou Hungria.
Para o analista, esse movimento não só melhora a alocação de capital da Eletrobras, liberando recursos para investimentos em negócios com retornos mais atrativos, mas também elimina riscos de crédito ou de futuros aportes associados à Eletronuclear.
Já o JP Morgan destaca a redução de risco como o principal benefício para a Eletrobras (ELET3), já que a participação na Eletronuclear era uma fonte de preocupação para os investidores devido à incerteza sobre os dividendos dos ativos operacionais e garantias para a obrigação de dívida.
A Eletrobras registrará uma provisão (impairment) de R$ 7 bilhões no balanço relacionado à venda do ativo, um impacto contábil negativo pontual. Porém, o banco avalia que os investidores já atribuíram praticamente nenhum valor ao ativo devido a preocupações sobre dividendos de Angra 1 e 2 e a obrigação de financiamento para a construção de Angra 3.
Enquanto isso, a Ativa Research avalia que o movimento é coerente com o foco estratégico da Eletrobras de se consolidar como a maior empresa de energia elétrica renovável do país após a privatização, com otimização de capital e simplificação corporativa.
“A Eletrobras já vinha desinvestindo em termelétricas, inclusive com vendas anteriores à própria J&F, demonstrando consistência na estratégia de concentrar recursos em geração renovável e transmissão”, escreveram os analistas.
Para a Ativa, em termos de alocação de capital, a venda libera caixa e contingências, o que significa mais espaço para novos investimentos e mais dividendos aos acionistas.