Patrocinado

A Raízen (RAIZ4), Braskem (BRKM5) e Ambipar (AMBP3) ganharam as manchetes do noticiário econômico ao mesmo tempo nas últimas semanas. Dívidas. Problemas com acionistas majoritários. Dificuldades em pagar os credores e reestruturar o negócio. Os motivos são diversos — mas nenhum positivo.

Resultado: sinal vermelho no mercado de crédito corporativo, onde são negociadas as debêntures das empresas de capital aberto. Seja para pessoa física, seja para fundos de crédito privado ou de infraestrutura (FI-Infras), os títulos de dívida dessas empresas passaram a ser uma posição “non grata” nas carteiras de renda fixa.

As debêntures da Raízen estão sendo negociadas com preços 20% abaixo do valor de emissão. No caso da Braskem, os “descontos” chegam a 40%. Para a Ambipar, a situação foi ainda mais profunda, com os preços despencando até 90%.

VEJA: Ex-presidente do Banco Central afirma que governo Lula apertou a “tecla G de gastar” e jovens terão dívida de R$ 8 trilhões no futuro

Esses “descontos” acontecem quando o mercado reavalia o risco da dívida — ou seja, quando os investidores passam a considerar maior a chance de calote. Com isso, há uma corrida dos investidores para se desfazer das suas posições antes do vencimento, ainda que, na venda antecipada, recebam um valor menor.

Quando o preço das debêntures cai, a taxa de juros — que é o prêmio oferecido pelo risco do investimento — sobe. E quanto maior a taxa, maior a preocupação e menor o preço, porque a empresa passou a ser vista como mais arriscada.

Embora a situação de cada uma dessas companhias seja distinta, o fato de os problemas ganharem repercussão ao mesmo tempo fez com que o mau humor do mercado incidisse sobre todas.

VEJA: Governo Lula quer manobrar regra fiscal para turbinar gastos em 2026

“Efeito Americanas” no horizonte?
O último grande abalo no mercado de crédito privado aconteceu há pouco mais de dois anos, com o rombo contábil de R$ 25 bilhões da Americanas.

A fraude na empresa veio a público de um dia para o outro e desestabilizou grande parte do mercado financeiro. Para todos os efeitos, Americanas era uma empresa “triplo A” — o maior grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco, usado para indicar companhias consideradas seguras, isto é, boas pagadoras das suas dívidas.

A ruína repentina da varejista levou os agentes financeiros a questionarem praticamente todas as teses do mercado.

Novas emissões de debêntures recuaram 34,6% no primeiro trimestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano anterior. As taxas de títulos de dívida subiram fortemente nos mais diversos setores, inclusive em outras empresas “triplo A”, pois os investidores ficaram descrentes. Não foram apenas os títulos de Americanas que foram afetados. Mas este não é o cenário atual.  

O mercado já sabia, mas parece não ter avisado os pequenos investidores

“Americanas foi uma situação muito fora da curva. Foi uma surpresa completa, do dia para a noite”, diz Ulisses Nehmi, sócio e CEO da Sparta. “Raízen, Braskem e Ambipar estão sendo monitoradas há meses. Não são casos em que ninguém estava vendo os problemas a caminho. O mercado já sabia, era uma questão de tempo.” 

Nehmi afirma que o caso Americanas serviu para amadurecer o mercado de crédito. Segundo ele, a reavaliação da dívida dessas empresas vem ocorrendo há meses, não é algo recente. 

LEIA: FBI entra na investigação sobre documentos falsificados usados pelo STF para justificar prisão de Filipe Martins

Dívida de Braskem, Ambipar e Raízen  

Segundo especialistas cada empresa enfrenta problemas próprios, que não se relacionam entre si. 

  • Raízen está com um nível de endividamento elevado e enfrenta dificuldades no processo de venda de ativos para reduzir a dívida. Mas a Raízen tem como peça central o maior financiador de Campanha eleitoral de Lula em 2022, e isto pelo menos para ele pode render muito.
  • Braskem sofre com questões setoriais — como o prêmio baixo nos produtos petroquímicos — e internas, envolvendo crise entre acionistas e credores. Ela também tem dinheiro do governo Lula envolvido.
  • Já a Ambipar  enfrenta uma situação mais sensível, com dúvidas sobre transparência e governança da diretoria, além de um pedido de recuperação judicial.  

Ambipar e o Governo Lula

  • Em janeiro de 2025, o Ministério dos Povos Indígenas, sob o governo Lula, firmou um memorando de entendimento com a Ambipar sem licitação ou consulta pública.
  • O acordo permite que a multinacional atue em aproximadamente 1 milhão de km² de terras indígenas, o que representa cerca de 14% do território nacional.
  • A atuação da Ambipar inclui:
    • Capacitação de brigadas indígenas para combate a incêndios.
    • Projetos de preservação ambiental e créditos de carbono.
  • A empresa atua no setor ESG e teve valorização expressiva na bolsa, seguida por uma queda de 26% em apenas 20 dias

Para Christopher Smith, gestor de crédito da Capitânia, o impacto recente sobre a dívida dessas empresas teve repercussão maior entre investidores estrangeiros do que entre os brasileiros. 

“A exposição ao Brasil é limitada na carteira do estrangeiro e essas empresas estavam em muitos portfólios. Diante da crise, a decisão mais rápida é zerar posições e diminuir o máximo possível o prejuízo, o que gera uma força de venda”, diz Smith.  

No mercado local, ele avalia que os fundos com maior posição sofreram algum impacto, mas nada significativo em relação ao volume total da indústria. A questão, para Smith, é que muitas pessoas físicas tinham posição nessas debêntures. 

“Muita pessoa física exposta torna o evento maior do que ele é de fato”, diz o gestor da Capitânia.  

Para esse investidor pessoa física, o preço da debênture que caiu aparece com uma marcação negativa no portfólio — ou seja, a “marcação a mercado”, que reflete o valor atual do papel. 

MAIS: Stédile fala em enviar o MST para a Venezuela contra os EUA

Acesse as notícias que enriquecem seu dia em tempo real, do mercado econômico e de investimentos aos temas relevantes do Brasil e do mundo pelo telegram Clique aqui. Se preferir siga-nos no Google News

LEIA: Fundo usou dinheiro de aposentados para financiar Banco Master de forma irregular, afirma justiça

Mas o retorno contratado permanece. Caso o investidor leve o título até o vencimento, o retorno combinado no início é mantido — desde que a empresa consiga pagar a dívida, claro. E no caso de uma companhia que pede recuperação judicial, como a Ambipar, este cenário já se torna pouco provável. 

No caso dos fundos de infraestrutura que têm essas debêntures na carteira é um pouco diferente.  

uando os preços dos títulos de dívida que o fundo comprou perdem valor, o saldo desses fundos cai. Mas, de modo geral, o impacto é menor, já que eles investem em dezenas de debêntures. A diversificação protege os cotistas justamente nesses casos. 

Mesmo no caso de uma posição alta, Smith afirma que “alguns gestores vão precisar se explicar”, mas que faz parte da indústria e “é contornável”. 

Outros setores em risco de colapso

“Locadoras de carro, varejistas e setor imobiliário sofrem mais nesse cenário. Se tiver uma situação de endividamento mais alto, o risco fica maior para investir em crédito”, diz o gestor da Ibiuna.  

Dados da Anbima mostram que as emissões de debêntures atingiram um novo recorde em 2025. Até setembro, somaram R$ 487,3 bilhões em ofertas — entre títulos tradicionais e os isentos de imposto de renda. 

Receba conteúdo exclusivo sobre os temas de seu interesse! Confirme em sua caixa de e-mail sua inscrição para não perder nada