O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse estar “convencido” de que o processo eleitoral na Venezuela foi “normal” e “tranquilo”. Ele comentou nesta terça-feira (30) pela primeira vez sobre o pleito no país vizinho.
O petista defendeu a apresentação das atas eleitorais para “resolver a briga”, mas minimizou as suspeitas em torno da vitória do ditador Nicolás Maduro.
“É normal que tenha uma briga. Como se resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar”, disse o presidente em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo no Mato Grosso.
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O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou a vitória de Maduro após as eleições de domingo (28), sem divulgar as atas de votação para referendar ou não o resultado do pleito. O órgão eleitoral é controlado pelo regime chavista.
Segundo o CNE, Maduro teve 51% contra 44% de Edmundo González, principal candidato da oposição. Na tarde desta segunda (29), a líder oposicionista María Corina Machado acusou o regime de fraude e reivindicou a vitória de González. De acordo com Machado, o bloco Plataforma Unitária Democrática (PUD) obteve 73% das atas.
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O governo Lula ainda não reconheceu oficialmente ou contestou a vitória do ditador e espera a divulgação das atas eleitorais para se manifestar oficialmente. Mas Lula afirmou: “eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo. O que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de se expressar e de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo”, disse o mandatário.
Na noite desta segunda (29), o PT divulgou uma nota sobre o pleito em que trata Maduro como “presidente reeleito”. O partido de Lula classificou o processo eleitoral no país vizinho como uma “jornada pacífica, democrática e soberana”.
Questionado sobre o comunicado do PT, o presidente disse que a sigla apenas elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas e reconhece que o órgão eleitoral declarou a vitória de Maduro.
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“O Tribunal Eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial, mas não tem nada de anormal. Tem uma eleição, tem uma pessoa que disse que teve 51%, teve outra pessoa que disse que teve 41%, entra na Justiça e a Justiça faz”, acrescentou Lula.
Lula critica “ingerência externa” e bloqueios contra a ditadura na Venezuela
O presidente brasileiro afirmou que quando as atas forem divulgadas e referendadas temos a “obrigação” de reconhecer o resultado eleitoral. Ele afirmou ainda que a nota conjunta avaliada por Brasil, México e Colômbia para cobrar a publicação de atas “não é necessária”.
“Na hora que forem apresentadas as atas e for consagrado que as atas são verdadeiras, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral na Venezuela… O presidente Maduro sabe perfeitamente bem que quanto mais transparência houver, mais chance de tranquilidade para governar a Venezuela ele terá”, disse.
Lula não mencionou os mortos e feridos pelo regime de Maduro, nem tão pouco do regime tirar do ar o site com as atas publicadas pela oposição. Ou ainda o sequestro do líder da oposição pelo regime.
O petista criticou ainda a “ingerência externa” e os bloqueios impostos à Venezuela. “É preciso acabar com a ingerência externa de outros países. A Venezuela tem o direito de construir o seu modelo de crescimento e desenvolvimento sem que haja bloqueio”, afirmou.
“Um bloqueio que mata Cuba há 70 anos, que penaliza o Irã, que penaliza a Venezuela, precisa parar com isso. cada um constrói o seu processo democrático. Cada um tem seu processo eleitoral”, acrescentou Lula.
Seis pessoas morreram até o momento em protestos contra Maduro após as eleições
Milhares de venezuelanos se reuniram nesta terça (30) em Caracas em um ato convocado pela oposição para rejeitar, pelo segundo dia consecutivo, o que consideram uma fraude nos resultados divulgados pelo CNE, que não mostrou as atas de totalização.
Segundo organizações não governamentais, seis pessoas morreram e 84 ficaram feridas durante os protestos. O Ministério Público local contabilizou 749 prisões e 48 policiais e militares feridos, um deles morto “por tiros disparados pelos manifestantes”.
A novas manifestações ocorrem após numerosos protestos realizados na segunda em várias regiões do país em rejeição ao resultado eleitoral anunciado pelo CNE. A escalada da tensão levou o Ministério das Relações Exteriores a emitir um alerta de segurança aos brasileiros que estão na Venezuela. Com informações da Agência EFE.