O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 25 pontos-base na última quarta-feira. Entregou um novo ciclo de aperto monetário conforme esperado pelo mercado, em um comunicado cujo conteúdo poderia ter sido, inclusive, a justificativa de uma elevação de meio ponto percentual.
Após a decisão, o mercado interpretou o comunicado como “duro demais” e começou a especular a velocidade de alta na taxa Selic e a taxa terminal, com projeções superando os 12% e chegando a 13% em alguns casos. Esperava-se uma desinclinação na curva de juros com queda das taxas nos vértices longos, mas ocorreu o contrário, com a curva se mantendo inclinada com a alta nos vértices longos. Agora, há momentos de precificação na curva de juros de alta de 75 pontos-base na Selic para a reunião de 6 de novembro e taxa terminal de 13%.
A oportunidade do Copom de calibrar a expectativa do mercado no novo ciclo de aperto monetário e reancorar as expectativas é a ata da última reunião, que será divulgada na próxima terça-feira (24) – além do Relatório de Inflação, que será conhecido na quinta. O colegiado vai ter que explicar, na ata, os detalhes dos pontos que causaram a deterioração atual das expectativas de inflação, como o hiato do produto positivo e o balanço de risco assimétrico altista.
Além disso, o cenário externo, pouco citado no comunicado, receberá a atenção do mercado na leitura da ata. Por mais que os dirigentes do Copom enfatizem que “não há relação mecânica entre a política monetária dos EUA e a brasileira”, a tendência atual dos efeitos de uma flexibilização conduzida pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) é de aumento da liquidez global, com os investidores estrangeiros se posicionando em ativos de risco, entre os quais de economias emergentes como a brasileira.
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Esse movimento se reflete na cotação do dólar. A valorização da moeda americana ante o real nos últimos meses é um dos fatores de alta da inflação apontada pelo Copom no balanço de risco. Uma queda do dólar, neste momento de alta da Selic e queda na taxa de juros nos EUA, ajudaria no controle da inflação na economia brasileira com a entrada de capital estrangeiro.
Embora a necessidade da alta da Selic não fosse consenso entre os economistas e gestores, com alguns defendendo que a taxa em 10,5% já estava em um patamar suficientemente contracionista para a retomada da inflação ao centro da meta, há argumentos sólidos para esse novo ciclo de aperto. Entre os quais estão:
- Deterioração da expectativa de inflação de 2025 e 2026 bem acima do centro da meta de 3% de inflação. Inclusive, a projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, horizonte relevante da política monetária, subiu de 3,2% para 3,5%.
- Inflação corrente acima de 4% com tendência de risco de romper o teto superior de 4,5% da meta de inflação. Apesar da deflação em agosto, o acionamento da bandeira vermelha 1 nas contas de energia elétrica, efeitos negativos da seca na oferta de alimentos e dólar negociado por volta de R$ 5,50 devem elevar a inflação acima da média do período para os próximos meses.
- Economia do Brasil operando acima do potencial, com um mercado de trabalho considerado apertado com ganho salarial transmitido em alta de preço dos produtos.
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- Risco fiscal com governo Lula flertando em não cumprir a meta fiscal de 2024 e 2025, além de receio se o arcabouço fiscal será respeitado caso as contas públicas não fiquem na faixa inferior da meta fiscal.
- Ausência de credibilidade do Copom em meio à transição de comando da autoridade monetária: sai Roberto Campos Neto, que não tem uma boa relação com o governo, e entra Gabriel Galípolo.
A semana reserva também outros dados importantes para a economia brasileira. O IPCA-15 de setembro, que será divulgado na quarta-feira (25), será a primeira mensuração do nível de preços com impactos da seca e das queimadas, além da bandeira vermelha 1 nas contas de energia.
Dados do mercado de trabalho de agosto, com o Caged (quinta) e a taxa de desemprego (sexta), vão apontar se o mercado de trabalho continua aquecido ou pode ter entrado em uma tendência de desaceleração. Outros dados importantes são a inflação ao produtor e o IGP-M de agosto, além dos empréstimos bancários e Transações Correntes
No exterior, os destaques são a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre e o índice de inflação preferido do Fed, o PCE. Os dois indicadores serão revelados no fim da semana. O mercado vai verificar se a leitura final do PIB continua apontando expansão de 3% entre abril e junho, enquanto as atenções no índice de inflação são para monitorar a tendência de desaceleração e que venha em linha com o consenso, tanto o índice cheio como o núcleo (que exclui os itens voláteis como alimentos e energia).
Além disso, dirigentes do Fed vão realizar discursos ao longo da semana. O destaque é a concentração de vários discursos no evento “U.S. Treasury Market Conference” promovido pelo Fed de Nova York, entre os quais de Jerome Powell, presidente da autoridade monetária americana.
Confira abaixo os principais eventos econômicos entre os dias 23 e 27 de setembro:
Segunda-feira (23 de setembro): Feriado no Japão; prévia dos PMIs Industrial, do Setor de Serviços e Composto de setembro da Zona do Euro, Reino Unido, EUA e Japão; Boletim Focus no Brasil; Discurso de Bostic, membro do Fomc; Discurso de Goolsbee, membro do Fed; Discurso de Kashkari, membro do Fomc.
Terça-feira (24 de setembro): Coletiva de Imprensa do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês); Ata do Copom no Brasil; Índice de Preços de Imóveis de Julho dos EUA; Confiança do Consumidor da Conference Board de setembro nos EUA.
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Quarta-feira (25 de setembro): Inflação ao consumidor do Japão; Dados do setor externo de agosto do Brasil; IPCA-15 de setembro; Atas da reunião do BoJ.
Quinta-feira (26 de setembro): Relatório de Inflação no Brasil; Inflação ao Produtor de Agosto do Brasil; Pedidos por Seguro-Desemprego, Pedidos de Bens Duráveis de agosto e leitura final do PIB do 2º trimestre dos EUA; Discurso de Collins, membro do Fed; Discurso de Powell, presidente do Fed; Discurso de Williams, membro do Fomc; Discurso de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE); Discurso de Barr, vice-presidente de Supervisão do Fed; Discurso de Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA; Discurso de Kashkari, membro do Fomc; Inflação ao Consumidor de setembro em Tóquio, Japão; Lucro Industrial de Agosto da China.