Os venezuelanos puxam 1ª alta desde 1900 de porcentual de estrangeiro no Brasil. É também o maior número absoluto de estrangeiros vivendo no Brasil desde 1980.
Pela primeira vez em mais de um século foi registrado aumento na porcentagem de estrangeiros que vivem no Brasil. O número de estrangeiros e naturalizados passou de 592 mil, em 2010, para cerca de 1 milhão, em 2022 – alta de 70,3%.
Esse salto se deve ao grande fluxo de venezuelanos que vieram para o País nos últimos dez anos por causa da crise econômica e humanitária, imposta pela ditadura no país.
hAcesse as notícias que enriquecem seu dia em tempo real, do mercado econômico e de investimentos aos temas relevantes do Brasil e do mundo pelo telegram Clique aqui. Se preferir siga-nos no Google News: Clique aqui. Acompanhe-nos pelo Canal do Whastapp. Clique aqui
AINDA: Rei do ovo aponta dificuldade para contratar brasileiros estão…
Saiba como conseguir sua segunda residência em outro país e como proteger seu patrimônio do Brasil, tendo outra residência fiscal. Entre no telegram Clique aqui. Estamos formando o grupo e em breve colocaremos todos os detalhes neste canal.
Desde 1900, quando os estrangeiros representavam 7,3% da população brasileira, a taxa vinha caindo.
Em 2022, o Censo registrou a primeira alta nessa porcentagem desde o início do século 20. É também o maior número absoluto de estrangeiros vivendo no Brasil desde 1980.
AINDA: Crise de mão de obra no Brasil obriga supermercados a pedirem…
Segundo o IBGE, os estrangeiros e naturalizados são, atualmente, 1.009.341, o que equivale a 0,5% da população.
Venezuela
Também houve mudança considerável do local de origem dessas pessoas. No passado, elas vinham da Europa e dos Estados Unidos. Agora, elas vêm da América Latina, em especial da Venezuela.
LEIA: PT usa R$ 173 mil do dinheiro de impostos para tentar …..
Entre os estrangeiros e naturalizados registrados neste Censo, 460 mil haviam imigrado até 2012, 151 mil entre 2013 e 2017 e outros 399 mil entre 2018 e 2022. Isso revela que o fluxo mais recente já é responsável pela maior parte das pessoas nascidas no exterior e residindo no Brasil.
LEIA: Mercado automotivo brasileiro encerra o mês com indicadores no vermelho
Ao longo da última década foi registrado grande crescimento na proporção de imigrantes oriundos da América Latina, que passaram de 27,3% do total em 2010, para 72% em 2022. De 2,8 mil venezuelanos residentes em 2010, passou-se a ter 272 mil, sem contar os números do ano passado.
Os aumentos ocorreram simultaneamente à redução de fluxos da Europa (29,9% para 12,2%) e do norte da América (20,4% para 7%).
O papel da Venezuela no Narcotráfico
Para a coordenadora do Centro de Estudos sobre Crime Organizado Transnacional da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, Carolina Sampó, o tráfico se beneficia do difício acesso em área de selva e o controle estatal limitado na região.
“Venezuela e Brasil fazem fronteira com os únicos produtores mundiais de folha de coca – matéria-prima da cocaína –, que são Colômbia, Peru e Bolívia”, detalhou a pesquisadora à DW.
Segundo ela, os narcotraficantes baseiam suas rotas mais no risco do que no custo econômico. “Em muitos casos, escolhem rotas mais longas ou caras, mas mais seguras. Isso pode explicar por que a cocaína produzida na Colômbia passa pela Venezuela e, de lá, segue para o Brasil, formando um tipo de triângulo”, disse Sampó.
VEJA: Deputada do PSOL ostenta look de milionários, muito superior ao próprio…
“E, se somarmos a isso o fato de que, do lado venezuelano, há um regime não democrático, com sérias evidências contra as mais altas esferas do poder por envolvimento no narcotráfico, torna-se mais fácil para as organizações criminosas moverem grande parte de sua produção através da Venezuela e, de lá, enviá-la aos mercados consumidores”, defendeu Sampó.
A relevância do rio Amazonas
“A fronteira entre Venezuela e Brasil é uma das mais importantes dentro da geopolítica do narcotráfico na Amazônia”, afirmou Alan Ferreira, da UFPB, que realiza pesquisas de campo na região.
“Do lado brasileiro, opera o Primeiro Comando da Capital (PCC), do lado venezuelano, o Tren de Aragua, uma organização criminosa que tem ganhado muita influência”, explicou.
“Esses grupos criminosos têm uma espécie de acordo entre si e se aproveitam do fato de que a área é uma área de proteção indígena Yanomami, com menor presença policial, para transportar drogas por ali”, acrescentou.
Com isso, a rota ganha uma importância dupla. Se por um lado a droga que entra é consumida no Brasil – o segundo maior mercado consumidor de cocaína do mundo – por outro, os traficantes se valem do rio Amazonas para levar os entorpecentes à Europa.
Como combater o narcotráfico transnacional?
“Nenhum país pode enfrentar esse problema sozinho: a cooperação internacional é essencial”, defendeu Alan Ferreira, da UFPB, que realiza pesquisas de campo na região.
Países signatários da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, como Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, organizam a implementação de um Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, com sede em Manaus. A estrutura estava prevista para ser inaugurada em 2024, mas foi adiada para 2025 e ainda não ocorreu.
MAIS: Atividade de serviço no Brasil tem pior desempenho trimestral dos últimos quatro anos
Ao menos entre Brasil e Venezuela, porém, essa cooperação pode estar pressionada, devido aos recentes atritos entre os países em meio à contestada eleição de Nicolás Maduro e a dívida não paga ao Brasil.
Para a doutora em Ciências Políticas Penais e Política Criminal mexicana, Yuriria Rodríguez Castro, da Universidade Nacional Autônoma do México, a agenda da América do Norte e da América Central, com a questão das designações de cartéis transnacionais como organizações terroristas, vai demandar uma reavaliação da situação no sul do continente.
“Podemos esperar um deslocamento geográfico e o surgimento de novos pontos críticos na América do Sul”, avaliou.