Com Este Investimento de Renda Fixa Você Pode Perder Dinheiro

A todo  momento aparecem investimentos com rentabilidades que são verdadeiros milagres. A internet é uma ótima disseminadora deste tipo de produto financeiro. A qualquer época os cuidados são necessários. Em tempos de juros baixos como atualmente os cuidados precisam ser ainda maiores.

As ofertas milagrosas são muitas. Uma recente rolando na internet tem o seguinte apelo: “Conheça o investimento de renda fixa com retorno de 200% do CDI”. Em tempos de juros abaixo de 7%, esta oferta é extremamente atrativa não é mesmo?

Muito cuidado com seu dinheiro! Em tempos de economia fraca o cuidado com seu patrimônio precisa ser redobrado. Esta oferta de investimento é de saltar os olhos mesmo. Ela me chamou muito atenção, por isto a estou usando como exemplo aqui.

Vamos analisá-la  agora para avaliar sua real qualidade. A oferta oferece um investimento em renda fixa que promete um retorno de 12,8% ao ano. Em tempos de juros abaixo de 7%  esta proposta é maravilhosa!

O produto é uma emissão de dívida de uma construtora e funciona como uma Operação Ativa Vinculada, OAV. O prazo do investimento é de dois anos e a pessoa só precisa acessar a página de uma fintech que esta comercializando o produto e transferir o dinheiro.

O investimento inicial aceito é de R$ 1000,00 e garante ser um meio de você acessar o mercado imobiliário sem precisar comprar um imóvel.

Agora para saber se este tipo de investimento de fato é um boa precisamos entender o que é uma Operação Ativa Vinculada. É uma modalidade de empréstimo para empresas, que as permite obter crédito financiado por pessoas físicas. É bom para a empresa porque as taxas de juros são menores do que ela geralmente consegue no banco, e é bom para qlin uem financia pois os juros geralmente rendem mais que CDB e tesouro direto.

Na prática, tanto o empréstimo da empresa, quanto o crédito cedido pelos investidores se tornam títulos financeiros. Geralmente no Brasil o peer-to-peer lending acontece através de operação ativa vinculada (OAV). Esta operação é regulamentada pelo Banco Central através da Resolução Nº 2.921, de 17 de Janeiro de 2002.

Nesse tipo de operação, a dívida da empresa é representada por um CCB (Cédula de Crédito Bancário). Já o crédito cedido por cada investidor é representado por uma RDB (Recibo de Depósito Bancário). Esses títulos são então vinculados pela instituição financeira parceira. No Brasil ainda são pouquíssimas plataformas que oferecem o serviço. Quando oferecem, é sempre em parceria com uma instituição financeira que garante a operação ativa vinculada explicada acima.

Os Riscos

Por ser uma operação vinculada, o principal risco é o de não pagamento por parte da empresa tomadora de crédito. Esse risco, contudo, pode ser mitigado através de uma boa análise de crédito por parte da plataforma e também pela diversificação. Não é recomendado investir todo seu capital no título de apenas uma empresa; distribua em títulos de diversas empresas para diluir o risco. Procure informações sobre esses dois pontos — diversificação e análise de crédito — para decidir qual é a melhor plataforma para começar a investir.

Pode ocorrer também atrasos na obra em questão a qual o investimento esta vinculado e assim você não ter seu dinheiro no prazo. Os investimentos realizados por meio de plataformas OAV estão sujeitos ao risco de perda total ou parcial dos montantes investidos. O investidor precisa estar ciente de todos os riscos envolvidos antes de realizar qualquer investimento. Os riscos incluem, mas não se limitam, aos citados. Esta operação não é garantida pelo FGC, Fundo Garantidor de Crédito.

Risco de Inadimplência do tomador 

Ao realizar um investimento o investidor passa a estar exposto ao risco de perder a totalidade ou parte do investimento realizado. Pois seu retorno está vinculado ao pagamento das parcelas do empréstimo por parte do solicitante. Ou seja, enquanto o tomador não realizar parte ou totalidade de alguma parcela, o investidor não receberá a totalidade das parcelas da instituição financeira parceira .

O risco de inadimplência do mutuário está associado também a outros fatores que afetam o mercado, tais como ciclos econômicos, política econômica, situação econômico-financeira das empresas dos setores que as empresas solicitantes façam parte e/ou de setores que comumente adquiram os produtos e/ou serviços da empresa solicitante. O investidor tem que estar ciente de que existe a possibilidade de ter que tomar medidas extrajudiciais ou judiciais para cobrar o tomador inadimplente. Que também terá despesas com isto.

É importante também estar atento as regras do contrato de Operação Ativa Vinculada para entender melhor outros riscos envolvidos. Ainda assim, no caso de a Instituição Financeira parceira quebrar, se eventualmente existir capital pago pelos tomadores, mas ainda não repassado aos investidores. Estes recursos não pertencerão à massa falida da Instituição Financeira. Mas sim aos investidores, uma vez que o depósito foi expressamente vinculado à performance dos empréstimos escolhidos por eles. Os repagamentos mensais de seus investimentos também mitigam esse risco. No entanto, é importante ressaltarmos que, existe o risco de o poder judiciário entender de outra forma e que você possa vir a não recuperar os recursos em caso de insolvência da Instituição Financeira parceira.

Considerações

Este tipo de investimento tratado aqui é apenas um dos muitos que circulam no mercado. E como são vendidos como renda fixa muitas vezes as pessoas os relacionam como investimentos seguros e conservadores, o que de forma alguma é verdadeiro.

É importante também avaliar a idoneidade das empresas envolvidas no processo de oferta de investimento. No caso que tratei especificamente, as informações da oferta tratavam a construtora como uma empresa forte e confiável no mercado. Mas em uma rápida busca pela internet constatei que a construtora coleciona reclamações de consumidores insatisfeitos.

O estudo sobre as empresas envolvidas neste tipo de transação precisa ser mais profundo. No entanto, o simples fato de muitos consumidores estarem reclamando da empresa já mostra a fragilidade da mesma. Imagine se as reclamações se transformarem em ações judiciais e indenizações. Estes fatos já pode abalar a saúde financeira da empresa.

Observe que isto não é uma indicação ou mesmo descarte de opção para investimento. Você vai tomar a decisão baseada em conhecimento e sua disponibilidade ao risco. Qualquer investimento pode ser bom ou não, depende apenas da realidade e objetivo de cada investidor.

Em outros materiais você encontra nossa análise sobre outras modalidades de investimento. Veja também o vídeo sobre o assunto no início deste artigo. Caso seja de seu interesse utilize os comentários.

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