O CEO do Telegram, Pavel Durov, se manifestou pela primeira vez após a detenção pelas autoridades francesas no dia 24 de agosto e compartilhou uma mensagem em seu canal na plataforma.
“No mês passado, fui interrogado pela polícia durante quatro dias depois de chegar a Paris. Disseram-me que eu era pessoalmente responsável pelo uso ilegal do Telegram por outras pessoas, porque as autoridades francesas não receberam respostas do Telegram”, escreveu Durov.
O empresário é um exímio defensor da liberdade de expressão e não permite que governos autoritários tentem cercear a liberdade em sua plataforma. Ao defender suas ideia de liberdade o bilionário entra para a mesma lista de Elon Musk dono da plataforma X, que também o faz. O caso dos dois mostra o quanto os governos estão incomodados com a liberdade de criticar e mostrar a verdade que antes era controlada pelos grupos no poder. Agora qualquer pessoa tem acesso a isto, não apenas os grupos de elite selecionados e pagos pelo sistema de poder.
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O bilionário franco russo, de 39 anos, foi detido no dia 24 de agosto após desembarcar de um voo privado no aeroporto de Le Bourget, perto de Paris. Durov, que também possui nacionalidade francesa e dos Emirados Árabes Unidos, reside em Dubai, onde o Telegram tem sua sede.
Durov também está sendo investigado na França por “violência agravada” contra um de seus filhos, segundo revelou à agência France-Presse (AFP) uma fonte ligada ao processo. O crime teria ocorrido contra um filho nascido em 2017, enquanto estava na escola em Paris.
Após alguns dias de detenção, Durov foi liberado após pagar uma fiança de aproximadamente 30 milhões de reais.
O líder da plataforma digital observou que as autoridades francesas poderiam ter entrado em contato caso precisassem de assistência, destacando que o Telegram possui um representante legal na União Europeia. Além disso, Durov afirmou que ajudou as autoridades francesas a lidar com ameaças terroristas na França por meio de uma “linha de apoio” direta à empresa.
“Se um país está insatisfeito com um serviço na Internet, a prática comum é processar o próprio serviço”, escreveu Durov. “Usar leis de uma era anterior aos smartphones para acusar um CEO por crimes cometidos por terceiros na plataforma que ele gerencia é uma abordagem equivocada. Desenvolver tecnologia já é suficientemente difícil.” (LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA ABAIXO)
“Por isso, tomei como objetivo pessoal garantir que melhoremos significativamente nessa área. Já iniciamos esse processo internamente e em breve compartilharei mais detalhes sobre nosso progresso”, disse ele.
Ele ainda escreveu “as vezes, não podemos concordar com o regulador de um país sobre o equilíbrio certo entre privacidade e segurança. Nesses casos, estamos prontos para deixar esse país. Já fizemos isso muitas vezes. Quando a Rússia exigiu que entregássemos “chaves de criptografia” para permitir a vigilância, recusamos – e o Telegram foi banido na Rússia. Quando o Irã exigiu que bloqueássemos canais de manifestantes pacíficos, nós nos recusamos – e o Telegram foi banido no Irã. Estamos preparados para deixar mercados que não são compatíveis com nossos princípios, porque não estamos fazendo isso por dinheiro. Somos movidos pela intenção de trazer o bem e defender os direitos básicos das pessoas, particularmente em lugares onde esses direitos são violados”.
Em outro trecho ele afirma, ” sim, mantemos nossos princípios: nossa experiência é moldada por nossa missão de proteger nossos usuários em regimes autoritários. Mas sempre estivemos abertos ao diálogo”.
A justiça francesa indiciou Durov em 28 de agosto por crimes relacionados à plataforma de mensagens criptografadas, e o libertou sob estreita vigilância judicial.
O controle judicial envolveu um depósito de 5 milhões de euros, o que equivale a aproximadamente 30 milhões de reais, a obrigação de comparecer duas vezes por semana à polícia e a proibição de deixar o território francês, de acordo com a procuradora de Paris, Laure Beccuau.
O processo inclui 12 acusações relacionadas à divulgação através do Telegram – que conta com quase um bilhão de usuários – de conteúdos relacionados ao tráfico de drogas, pornografia infantil e fraudes.
As acusações incluem cumplicidade na administração de uma plataforma online para permitir transações ilícitas por gangues organizados, recusa em cooperar com as autoridades por meio da entrega de documentos ou informações necessárias para evitar atos ilegais e cumplicidade em fraudes e tráfico de drogas.
Embora afirme que o Telegram não é “um paraíso anárquico”, Durov admite que o crescimento do número de usuários da plataforma “trouxe desafios que facilitaram o abuso por criminosos”.
Os comentários de Durov nota na íntegra traduzida pelo Google
Obrigado a todos pelo apoio e amor!
No mês passado, fui entrevistado pela polícia por 4 dias depois de chegar a Paris. Disseram-me que posso ser pessoalmente responsável pelo uso ilegal do Telegram por outras pessoas, porque as autoridades francesas não receberam respostas do Telegram.
Isso foi surpreendente por vários motivos:
- O Telegram tem um representante oficial na UE que aceita e responde às solicitações da UE. Seu endereço de e-mail está disponível publicamente para qualquer pessoa na UE que pesquise no Google “Endereço Telegram EU para aplicação da lei”.
- As autoridades francesas tinham várias maneiras de entrar em contato comigo para solicitar assistência. Como cidadão francês, fui um convidado frequente no consulado francês em Dubai. Há algum tempo, quando perguntado, eu pessoalmente os ajudei a estabelecer uma linha direta com o Telegram para lidar com a ameaça do terrorismo na França.
- Se um país está insatisfeito com um serviço de internet, a prática estabelecida é iniciar uma ação legal contra o próprio serviço. Usar leis da era pré-smartphone para acusar um CEO de crimes cometidos por terceiros na plataforma que ele gerencia é uma abordagem equivocada. Construir tecnologia já é difícil o suficiente. Nenhum inovador jamais criará novas ferramentas se souber que pode ser pessoalmente responsabilizado por possíveis abusos dessas ferramentas.
- Estabelecer o equilíbrio certo entre privacidade e segurança não é fácil. Você precisa conciliar as leis de privacidade com os requisitos de aplicação da lei e as leis locais com as leis da UE. Você tem que levar em consideração as limitações tecnológicas. Como plataforma, você deseja que seus processos sejam consistentes globalmente, ao mesmo tempo em que garante que eles não sejam abusados em países com um estado de direito fraco. Estamos comprometidos em nos envolver com os reguladores para encontrar o equilíbrio certo. Sim, mantemos nossos princípios: nossa experiência é moldada por nossa missão de proteger nossos usuários em regimes autoritários. Mas sempre estivemos abertos ao diálogo.
- Às vezes, não podemos concordar com o regulador de um país sobre o equilíbrio certo entre privacidade e segurança. Nesses casos, estamos prontos para deixar esse país. Já fizemos isso muitas vezes. Quando a Rússia exigiu que entregássemos “chaves de criptografia” para permitir a vigilância, recusamos – e o Telegram foi banido na Rússia. Quando o Irã exigiu que bloqueássemos canais de manifestantes pacíficos, nós nos recusamos – e o Telegram foi banido no Irã. Estamos preparados para deixar mercados que não são compatíveis com nossos princípios, porque não estamos fazendo isso por dinheiro. Somos movidos pela intenção de trazer o bem e defender os direitos básicos das pessoas, particularmente em lugares onde esses direitos são violados.
- Tudo isso não significa que o Telegram seja perfeito. Até mesmo o fato de as autoridades poderem ficar confusas sobre para onde enviar as solicitações é algo que devemos melhorar. Mas as alegações em alguns meios de comunicação de que o Telegram é uma espécie de paraíso anárquico são absolutamente falsas. Removemos milhões de postagens e canais prejudiciais todos os dias. Publicamos relatórios diários de transparência (como este ou este). Temos linhas diretas com ONGs para processar solicitações urgentes de moderação mais rapidamente.
- No entanto, ouvimos vozes dizendo que não é suficiente. O aumento abrupto do Telegram na contagem de usuários para 950 milhões causou dores de crescimento que tornaram mais fácil para os criminosos abusarem de nossa plataforma. É por isso que fiz meu objetivo pessoal garantir que melhorássemos significativamente as coisas a esse respeito. Já iniciamos esse processo internamente e compartilharei mais detalhes sobre nosso progresso com você em breve.