Em menos de duas semanas, o mundo chacoalhou com Donald Trump à frente da Casa Branca. Até o momento, nós tivemos revogação de atos da gestão anterior, retirada dos Estados Unidos da OMS, um grupo de estudo aprovado para decidir como é que seria essa reserva de criptomoedas feita pelo governo americano e, mais recentemente, a imposição de tarifas ou não, como vocês verão mais à frente, sobre Canadá, México e China.
Foram justamente essas tarifas as responsáveis por causarem aquele, entre aspas, pânico no mercado cripto, que fez com que o Bitcoin chegasse até uma mínima de US$91 mil, coisa que ele recuperou pouco tempo depois.
E nos mercados tradicionais, várias bolsas pelo mundo operaram em queda por conta desse assunto. E aí fica a pergunta. Mas por que o mundo teme tanto essas tarifas que podem ser colocadas pelo Trump sobre outras economias, e qual seria o impacto disso para os seus investimentos?
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Se pegarmos a campanha eleitoral do presidente Donald Trump, ele falou bastante do uso de tarifas para fortalecer o mercado interno americano, uma vez que você começa a tributar aquilo que vem de fora, que era a opção inicial por ter preços mais baixos, e o americano vai começar a comprar de dentro, o que não era a opção inicial.
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Mas agora com essa tarifa que encarece o produto estrangeiro, ele passa a comprar de dentro de sua economia. Contudo, passados os 10 primeiros dias do governo, muita gente começou a pensar que isso era apenas retórica eleitoral, até que no último sábado, de fato, aquilo virou política, ou pelo menos uma ameaça de política para alguns países, como veremos mais à frente.
Seguindo a ordem cronológica, então como eu disse, no sábado o Trump lançou tarifas de 25% a contabéns produzidos no México e no Canadá, com exceção de produtos energéticos. E depois ele também colocou tarifas de 10% sobre produtos chineses. Essas tarifas inicialmente deveriam entrar em vigor no dia de ontem, mas elas sofreram uma pausa de 30 dias no caso de México e Canadá.
A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, entrou em contato com o Trump e perguntou o que ele queria para que essas tarifas não entrassem em vigor, até porque essas tarifas afetariam bastante a economia mexicana. E ele falou que queria melhor controle da imigração ilegal na fronteira, então ela mandou 10 mil soldados da Guarda Nacional para a fronteira.
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Com o Canadá, aconteceu a mesma história. Depois da notícia da imposição de tarifas, o Donald Trump falou com o primeiro-ministro canadense e ele também prometeu reforçar a segurança na fronteira para impedir a imigração ilegal. E aqui fica aquela dúvida, se de fato ele queria impor essas tarifas ou só usou a tarifa contra países que são altamente dependentes da economia americana para conseguir um outro objetivo, que na verdade era aquilo que ele queria desde o início.
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Então quando ele fala, vou tarifar a sua economia, e depois no final ele fala, proteja a fronteira aí, por outro lado parece até uma vitória. Então ainda é cedo para saber se ele queria ou não, realmente, as taxas. Vamos ver o que vai acontecer no desenrolar dos fatos. Agora o ponto é que com essa política de tarifar apenas México, Canadá e China, nós já falamos de quase metade das importações dos Estados Unidos.
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Como você pode ver no gráfico abaixo. Pegando um pouco dos produtos que seriam afetados, a gente tem parte de vegetais, frutas, carne, automóveis, eletrônicos, brinquedos, roupas, madeira, cerveja e destilados, sendo que alguns setores seriam particularmente mais atingidos do que outros, como por exemplo é o caso da parte de alimentos e do setor automotivo.
Pegando os automóveis como exemplo, os Estados Unidos importam quase metade das autopeças dos vizinhos do Norte, Canadá e do Sul para o México, de modo que uma tarifa de 25% sobre esses países, segundo estimativas, aumentaria o custo de produção dos veículos em até 3 mil dólares.
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Agora pegando a parte de alimentos, o custo americano no mercado também iria aumentar, porque o México é a maior fonte de produtos frescos para os Estados Unidos. Eles fornecem mais de 60% das importações de vegetais e quase metade da importação de frutas e nozes.
Poxa, então se os americanos vão perder com isso, porque vão ter que pagar mais caro, por que o Trump quer fazer? Porque no final a economia americana é muito menos dependente desse comércio com esses dois países do que esses países em relação aos Estados Unidos.
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Na verdade, se a gente pega e vê o impacto dessas trocas comerciais na economia americana, ele é muito inferior à economia alemã, ao Reino Unido, ao Japão, por exemplo. Esses outros países são muito mais dependentes de comércio. E quando a gente olha particularmente para Canadá e México, Veja que no caso do Canadá, 78% daquilo que é exportado vai para os Estados Unidos, mas representa apenas 14% das importações americanas.
E no caso do México, 80% do que é exportado vai para os Estados Unidos, mas representa apenas 15% do que os Estados Unidos importam. Ou seja, aquela frase que o Trump disse a respeito do Brasil, de que nós precisamos mais dele do que ele da gente, talvez valha ao quadrado para Canadá e México.
Falando com uma amiga que mora no Canadá, por exemplo, ele disse que o pessoal está muito preocupado, porque uma das grandes crises que aconteceram no Canadá foi justamente quando essa relação comercial com os Estados Unidos não estava tão boa. Virou a dependência que a economia canadense tem em relação aos americanos. E é justamente por isso que tanto a presidente mexicana quanto o primeiro-ministro canadense entraram em contato com o Trump para tentar adiar o impacto dessas tarifas e conseguir essa vitória. Ou não, porque talvez ele quisesse isso desde o princípio, só pressionar para conseguir mais vigilância em fronteira.
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Já a China, aí é outro caso. Como a gente vê, as tarifas sob a China são menores e o país em si é muito menos dependente da economia americana. E até do comércio internacional em relação aos outros países, uma vez que importações e exportações respondem por cerca de 37% do PIB da China, comparado a mais de 60% se a gente volta lá para os anos 2000.
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Então o mercado interno chinês está ficando muito pujante. E aí pegando a relação China-Estados Unidos, veja nesse outro gráfico que o que a China exporta para os Estados Unidos é apenas 15% do total de exportações, mas os Estados Unidos também, nesse bolo total daquilo tudo que é importado, 14% vem da China.
Agora, não é só porque a dependência é menor que ela não pode ser significativa em certos setores. E na China, você deve ter muitos integrantes do Partido Comunista agora sentados se debruçando sobre aqueles setores que vão impactar mais a economia americana caso eles queiram dar uma resposta a altura. Como por exemplo, aqueles minérios de terras raras que são muito utilizados por indústria de tecnologia.
Bom, mas de maneira geral, como é que nós estamos até agora então? Fazendo uma recapitulação do que vimos até o momento, Estados Unidos impôs tarifas de 25% sobre o Canadá, mas pausou isso durante 30 dias. Mesma coisa sobre o México, 25% também pausado. Ambos os países prometeram vigiar mais suas fronteiras com os Estados Unidos.
Ele também impôs 10% de tarifas sobre a China e vale dizer que o Canadá também revidou essa tarifa contra os americanos, colocando 25%, mas também pausou, uma vez que as tarifas não entraram ainda em vigor. E no caso da China, como é que eles responderam? No dia de ontem, eles anunciaram tarifas de 10% a 15% sobre alguns produtos americanos entrando em vigor a partir do dia 10 de fevereiro. E esse é um ponto a ser monitorado pelo mercado.
Se isso vai acontecer de fato ou não. Se a gente pega o primeiro mandato do presidente Donald Trump, nós tivemos essas rusgas comerciais com a China. Então, muito provavelmente, nós teremos a mesma coisa acontecendo agora durante o segundo mandato. Agora resta saber até que ponto essa guerra comercial e tarifária vai evoluir e também as suas consequências, já que tarifas mais altas de um país sobre o outro elevam o custo dos produtos, também provocam disputas entre esses países pelos mercados globais e uma alteração naquele jogo de importações e exportações de maneira global. E
Então, tem país que pode se beneficiar e outros que serão prejudicados. Mas, de maneira geral, o que a gente espera até o momento, segundo uma previsão da Bloomberg, em termos de impacto, é que essas novas tarifas vão impactar aproximadamente 1,3 trilhão em comércio, o que equivale a 43% das importações dos Estados Unidos, representando uns 5% do PIB.
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A tarifa média que os Estados Unidos praticam contra outros países deve subir de 3 para 10,7, por conta dessas novas tarifas contra Canadá, México e China. Isso tende a levar a economia americana a um choque de oferta. Num primeiro momento, a oferta dos bens ficando mais restritos, até que os americanos comecem a produzir isso lá dentro.
Esse é o plano do Donald Trump. Por isso que ele fala que as tarifas terão um impacto amargo no começo, mas depois vai ser bom. Isso depende muito desse depois. Vão, de fato, começar a aumentar a oferta de produtos lá dentro, porque isso de esperar que a demanda crie oferta, aqui no Brasil a gente tentou muitas vezes e acabou em inflação. E quanto às expectativas inflacionárias, essas tarifas devem reduzir o PIB americano. Algumas estimativas apontam para algo próximo de 1% e aumentar o corpo da inflação em 0,7%.
E é aqui que mora o perigo, porque com uma inflação mais alta nos Estados Unidos por mais tempo, a taxa de juros não cai, eles continuam sendo em cima de capital, o que torna mais difícil a vida dos emergentes. O dólar fica mais alto, a inflação fica mais alta aqui no Brasil, os juros têm que ficar mais altos, ativos de risco ficam lá embaixo. Todo aquele filme que a gente já viu ao longo do ano passado.
Como fica a situação do Brasil com as taxações americanas?
Só que com um plus, porque as coisas podem piorar. Se a gente pega, por exemplo, declarações do Trump, ele ameaçou taxar em 100% os países do bloco BRICS. Se eles quiserem usar outra moeda como alternativa ao dólar.
O que eu acho que não virá a acontecer. Você pega até o banco dos BRICS, eles usam dólar para fazer os seus empréstimos. Mas isso é uma entrada para a gente falar agora de Brasil.
Como é que fica a posição do nosso país frente a essas possíveis tarifas do Trump? Como já ficou claro anteriormente, o Brasil não é uma ilha. Então apenas por esse jogo global acontecendo com o China, com o Canadá, com o México, o Brasil já acaba sendo afetado. Porque afinal de contas, se lá você vai ter uma inflação mais alta, juros americanos mais altos por mais tempo, isso prejudica a nossa vida.
Deixa o dólar mais alto em relação ao real, de maneira geral. Leva a uma inflação mais alta. Essa inflação mais alta leva a juros mais altos, que faz nossa dívida pública crescer de maneira mais rápida.
E a nossa bolsa fica lá embaixo. Então esse é um primeiro ponto. Sem tarifa nenhuma, nós já somos afetados. Agora, será que o Brasil vai receber algum tipo de tarifa? Eu não acho que inicialmente nós somos um alvo prioritário. Porque se a gente pega a relação comercial Brasil-Estados Unidos, nós importamos mais dos Estados Unidos do que exportamos para eles. De modo que a nossa balança comercial com os americanos é deficitária.
Se a gente pega em 2024, as exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram algo como R$40,3 bilhões. Enquanto as importações somaram R$40,5 bilhões. Então veja nesse gráfico aqui que o nosso balanço atualmente é negativo.
Como ficam as tarifas e impactos no Brasil?
Isso já há algum tempo, praticamente desde o ano de 2008. Agora, não é porque não somos um alvo prioritário que não pode ter algum tipo de tarifa contra a gente. Porque lá no primeiro mandato do Trump nós tivemos.
Ele colocou tarifas sobre alguns produtos brasileiros como chapas de aço e alumínio. O que afetou tanto empresas nacionais quanto empresas americanas que utilizam esses insumos e tiveram que pagar mais caro sobre aquilo. Mas nenhuma tarifa se aproximou de algo próximo de 25%.
Agora um ponto que pode beneficiar o Brasil e que também já vimos no passado é que lá em 2016, Brasil e Estados Unidos exportavam praticamente a mesma fatia de soja para a China. 46% das importações de soja vinham do Brasil e 40% dos Estados Unidos. Aí começou essa questão dessa guerra tarifária e retaliações dos chineses.
O produto americano ficou mais caro e aí você teve uma troca. Com a fatia brasileira crescendo bastante, representando cerca de 80% das importações enquanto a americana caiu para menos de 20%. E eu particularmente acho que cedo ou tarde a gente vai ter algum impacto no Brasil por conta de dois assuntos.
A Casa Branca está muito distante de Brasília pela primeira vez na história
O primeiro deles é que eu acho que a gente há muito tempo não viu uma casa branca tão distante de Brasília. O Lula tinha manifestado claramente sua preferência pela vitória da Kamala Harris. Tinha feito críticas ao Trump. Depois ele ficou quieto durante um tempo, agora voltou a fazer. Então esse já seria um primeiro ponto de atenção. Donald Trump geralmente não deixa esse tipo de coisa barata.
O outro ponto está nesse gráfico que eu vou colocar aqui na tela. Vejam que no eixo vertical nós temos tarifas aplicadas pelos Estados Unidos e no eixo horizontal tarifas aplicadas sobre aquilo que vem dos Estados Unidos para outros países. E aí se você pega a posição do Brasil, que está aqui em destaque, e veja que a gente tarifa em cerca de 14% mais ou menos o que vem dos Estados Unidos, mas somos tarifados na média em alguma coisa próxima de 2% naquilo que a gente envia para os americanos.
E o Trump já observou essa relação. Ele disse que o Brasil tarifa muito os americanos e que eles vão taxar de volta. E quando ele diz que a gente precisa mais deles do que eles da gente, ele está certo porque hoje na balança comercial brasileira os Estados Unidos são o segundo maior parceiro que nós temos, atrás apenas da China. Sendo que se ele coloca tarifas lá, muito provavelmente o presidente Lula já falou que retalharia. Só que o impacto da retaliação vem sobre nós. É você pagando mais caro no seu iPhone, por exemplo, que já é caro pra caramba aqui no Brasil em comparação com outros países.
Loucuras de Lula podem custar mais caro para o bolso do brasileiro
Então pensando nos possíveis impactos para o seu bolso, eu acho que não é loucura pensar que dentro dos próximos dois anos, final de governo Lula, a gente possa ter por retaliação, tarifas aplicadas sobre os americanos depois que eles resolverem levar a tarifa deles para algo mais próximo daquilo que a gente já tarifa os Estados Unidos.
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Espero que seja só retórica para conseguir outros objetivos, porque se um país começa a tarifar outro e colocar essas barreiras à negociação, você tem menos comércio global, menos crescimento para todo mundo, mais inflação, o pessoal pagando mais caro em produtos que poderiam ser mais baratos. Com isso, o juro fica mais alto e os ativos de risco acabam sofrendo. Além de levar uma série de más alocações de ativos.
Era o cara que ia abrir um tipo de negócio que se mantém totalmente sustentável sem tarifa, mas decide alocar os ativos em outra área, porque ele vê, não, agora que a gente tarifou o Canadá, essa atividade que não era rentável até então, passa a ser rentável por conta da existência dessa tarifa. E aí depois, quando forem querer tirar a tarifa, esse cara vai tentar fazer lobby para que ela seja mantida, porque senão o negócio dele deixa de existir. Mas aí, para a gente saber o que vai acontecer, enfim, a gente tem que continuar acompanhando.