Ex-diretor do Banco Central entre 2016 e 2019, Viana afirmou que a economia tende a desacelerar, como efeito da alta de juros, e a inflação mostrar dinâmica pior, diante da recente depreciação do câmbio.
A perspectiva de piora das condições econômicas deve afetar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e colocar na mesa incertezas sobre a resposta do governo, disse Carlos Viana, responsável por pesquisa econômica da Kapitalo investimentos.
“O cenário é preocupante”, disse Viana, em conferência promovida pelo UBS e pelo UBS BB, sobre a possibilidade de o governo adotar medidas de estímulos à economia. Viana citou o risco de medidas fiscais e, também, parafiscais, ou seja, que driblam as regras fiscais, como o que já ocorreu com o pé-de-meia e foi paralisado por unanimidade pelo TCU.
“O principal tema é a popularidade e como as respostas do governo vão ocorrer”, afirmou. Diante das perspectivas mais negativas, o mercado entra em um cenário binário, na avaliação dele.
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Em um ambiente em que fique cristalizado a mudança de governo em 2026, “os mercados vão se animar, prêmios vão cair”, disse Viana. “No outro extremo, cenário em que se cristalize a reeleição, o cenário piora bastante.”
Viana, da Kapitalo, avalia que o BC enfrentará um “teste de autonomia” e pode sofrer pressão política do governo já ao longo do segundo semestre, caso a economia de fato desacelere.
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Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da Ibiuna Investimentos e ex-diretor do BC de 2004 a 2007 do governo Lula 2, avalia que as expectativas de inflação são uma preocupação, tendo se descolado bastante em relação à meta desde o último Copom, e a inflação alta está “pegando na popularidade” de Lula. Para ele, o BC não deve se “amarrar” ao guidance de duas reuniões à frente e pode condicionar o ritmo de novas altas de juros ao dados.
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Bruno Serra, que hoje é gestor do fundo Itaú Janeiro e foi substituído na cadeira de política monetária do BC por Gabriel Galípolo, disse que está cético quanto a capacidade do governo Lula de reverter uma desaceleração econômica. Para ele, o BC pode ter “calma” na administração da política monetária, mantendo o juro “algo perto de 15%” por bastante tempo.
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Dominância fiscal
Azevedo, da Ibiuna, apontou que o Brasil ainda não se encontra, mas está a caminho de um cenário de dominância fiscal — aquele em que a inflação para de responder à política monetária e passa a refletir mais as preocupações sobre o tamanho da dívida pública.
“Se nada for feito, Brasil está apontando para a dominância”, disse Azevedo, no evento. Caso o risco de dominância fiscal seja materializado, “está tudo muito caro no Brasil” neste momento, afirmou Azevedo, a respeito dos preços dos ativos.
Serra disse que o Brasil não vai para o “extremo da dominância fiscal até as eleições de 2026”. Desta forma, para ele, “a política monetária vai funcionar em alguma medida”.