O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) determinou, em 8 de outubro de 2025, a proibição de novos investimentos do Rioprevidência — fundo de aposentadoria dos servidores públicos estaduais — em ativos relacionados ao Banco Master. A medida foi tomada após o órgão identificar irregularidades nas operações financeiras envolvendo o fundo e a instituição bancária.
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Exposição bilionária e risco elevado
Segundo o TCE-RJ, até julho deste ano o Rioprevidência mantinha cerca de R$ 2,6 bilhões em títulos emitidos pelo Banco Master e fundos administrados pela Master Corretora, o que representa mais de 25% dos recursos totais do fundo. Essa concentração, de acordo com o tribunal, viola normas do Conselho Monetário Nacional (CMN), que exigem diversificação e proteção dos investimentos previdenciários.
O Banco Master não se pronunciou até o momento.
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Já o Rioprevidência, afirmou discordar da decisão e informou que está preparando um recurso para esclarecer as “inconsistências apontadas”. O fundo alegou que os investimentos somam R$ 960 milhões, estão “regulares e adimplentes” e que o fato de um fundo ser administrado por determinada instituição não implica que os recursos estejam aplicados diretamente nela.
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Letras Financeiras sem proteção do FGC
Documentos do TCE-RJ revelam que o Rioprevidência possui R$ 1,1 bilhão em Letras Financeiras do Banco Master — títulos de dívida que não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Caso o banco enfrente problemas financeiros, o fundo poderá sofrer prejuízos sem cobertura de seguro.
Desde que o Banco Central vetou a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), em setembro, aumentaram os rumores sobre uma possível liquidação ou intervenção na instituição. Isso eleva o risco para o fundo de previdência, que é responsável pelo pagamento de aposentadorias e pensões dos servidores estaduais.
Fundos com ativos ligados a Daniel Vorcaro e empresas investigadas
Entre maio e julho, o Rioprevidência aportou R$ 415 milhões no fundo de crédito privado Revolution, administrado pela Master Corretora. A carteira do fundo inclui ativos ligados ao presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, e empresários próximos a ele. O fundo também investiu no Brazil Realty FII, que abriga empresas de capital fechado ligadas a Vorcaro e familiares. O Brazil Realty já foi investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por fraude na emissão e negociação de cotas.
Outro investimento controverso foi em títulos da Blum Securitizadora (atualmente Reag Securities), braço do Grupo Reag, investigado na Operação Carbono Oculto por suposta ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). A Reag negou que o Rioprevidência seja investidor da Reag Securities.
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Aportes em fundo com ações da Ambipar e perdas milionárias
Em junho, o Rioprevidência investiu R$ 100 milhões no fundo Texas I FIA, também administrado pelo Master. Na data do aporte, o fundo era composto em 96% por ações da Ambipar (AMBP3).
A CVM investiga se o fundo atuou em conjunto com outros ligados ao Master e ao investidor Nelson Tanure para inflar os papéis da empresa, que subiram 700% entre junho e agosto de 2024.
A concentração excessiva em uma única ação gerou perdas de R$ 24 milhões ao fundo em julho. Com a crise financeira da Ambipar, as ações despencaram mais de 90% em outubro, ampliando o prejuízo. Segundo levantamento de Einar Rivero, da consultoria Elos Ayta, essa foi a maior desvalorização entre todas as ações listadas no período.
Estratégia do Master após queda dos CDBs
Em abril, o Estadão revelou que o Banco Master passou a vender Letras Financeiras após plataformas de investimento deixarem de comercializar seus CDBs, que eram oferecidos a altas taxas para pessoas físicas. A mudança ocorreu enquanto o banco negociava a venda de 58% do capital ao BRB. Além do Rioprevidência, outros 12 fundos de pensão também detinham esses títulos.
Os aportes nos fundos Revolution e Texas FIA I ocorreram entre maio e junho, período em que a operação BRB-Master ainda estava sob análise do Cade e do Banco Central.