Os mercados de juros futuros mostraram uma reação bastante negativa ao corte da taxa Selic anunciado pelo Banco Central na noite de quarta-feira. As taxas negociadas na B3 chegaram a disparar cerca de 30 pontos bases, um movimento considerado incomum.
A piora no humor do mercado foi causada principalmente pela divisão de votos entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom), segundo Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs.
“O que é tão único é que tivemos uma decisão hawkish, mas o fato de que tivemos quatro votos dovish eleva a preocupação de que, em breve, o Copom irá aceita maior risco de inflação”, disse ele em entrevista.
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O Copom reduziu o ritmo que corte da Selic para 0,25 ponto percentual com a avaliação de que os cenários interno e externo estão mais incertos.
O comitê, no entanto, mostrou uma divisão entre a ala capitaneada pelo presidente da instituição, Roberto Campos Neto, e os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo Gabriel Galípolo e Paulo Picchetti.
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A decisão dividida gera incerteza a partir de 2025, quando três dos diretores que votaram pela desaceleração deixarão o banco, incluindo Campos Neto. Dessa forma, Lula terá nomeado sete dos nove membros.
Decisão do Copom foi bem sustentada
Para Ramos, a decisão foi bem sustentada pela evolução dos dados e pelo balanço de riscos, mas com a divisão de cinco votos a quatro, as taxas futuras mais longas sobem mais, o que leva a uma maior inclinação da curva de juros. Isto representa um aumento da preocupação com a próxima transição na liderança do BC, diz ele.
“É uma reação inicial em linha com o esperado”, diz Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset. O real se deprecia frente ao dólar e a curva de juros ganha inclinação.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que vê com naturalidade o debate técnico sobre a taxa de juros. “É o curso normal das coisas,” disse a jornalistas ao comentar a decisão dividida do Copom na noite da última quarta-feira. Haddad disse ainda que fará comentários sobre a decisão após ler a ata da reunião, na próxima semana.
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Próximos passos em aberto
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, diz que o placar de cinco a quatro para corte de 0,25pp foi a principal surpresa e pode trazer incerteza sobre o próximo ano, já que os membros votantes a favor de 0,50pp eram indicados do atual governo.
O Copom não trouxe um guidance para as próximas reuniões. De acordo com o comunicado da decisão, a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros “serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Apesar de o comunicado não deixar explícito os próximos passos, ciclo ainda pode ter continuidade, diz Laiz.
Com informações Bloomberg