O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reforçado em seus discursos a necessidade de “taxar os super ricos” como forma de promover justiça social e combater desigualdades. A proposta, amplamente divulgada em eventos públicos, busca apoio popular ao apresentar uma agenda de redistribuição de renda e enfrentamento da concentração de riqueza.
No entanto, a prática política recente revela um contraponto desconfortável. Durante sua visita oficial à Indonésia, Lula participou de um jantar de Estado que reuniu alguns dos empresários mais ricos e influentes do Brasil — entre eles, Wesley e Joesley Batista, da JBS, figuras centrais em escândalos de corrupção passados e beneficiários diretos de políticas públicas durante governos petistas.
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Além dos irmãos Batista, estiveram presentes executivos de gigantes do agronegócio e da exportação de proteína animal, como BRF, Minerva Foods, ABPA, Abiec e Cecafe. A missão empresarial teve como objetivo ampliar a presença brasileira no mercado asiático, especialmente em setores que já lideram as exportações nacionais.
O paradoxo
Enquanto Lula defende a taxação dos super ricos em nome do povo, janta com os mesmos super ricos que acumulam lucros bilionários e influência política, muitos dos quais mantêm relações históricas com o governo. A presença desses empresários em agendas diplomáticas reforça a percepção de que o discurso popular não se traduz, necessariamente, em distanciamento dos grandes grupos econômicos.
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A crítica não está na promoção de exportações — algo legítimo e estratégico — mas na incoerência entre o discurso de enfrentamento à elite econômica e a proximidade com ela em eventos oficiais, especialmente quando esses empresários são reincidentes em escândalos e continuam sendo tratados como parceiros preferenciais do Estado.
Segundo o discurso oficial de Lula durante o Fórum Empresarial Brasil–Indonésia, ele agradeceu aos empresários por “fazerem a travessia do Oceano Atlântico e do Oceano Índico” até Jacarta, destacando que não foi uma viagem fácil nem simples, o que indica que não estavam na comitiva oficial a bordo do avião presidencial.
Fontes do setor e da imprensa brasileira confirmam que os empresários — incluindo Wesley e Joesley Batista (JBS), Marcos Molina (BRF), João Sampaio (Minerva Foods), entre outros — custearam suas próprias despesas e participaram de eventos paralelos organizados em coordenação com o governo, como o jantar de Estado e o fórum empresarial.
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O drama dos pequenos produtores
Enquanto isso, milhares de pequenos produtores rurais brasileiros enfrentam uma crise silenciosa e devastadora. Endividados, sem acesso a crédito emergencial, e afetados por juros altos, estiagens e queda nos preços de mercado, muitos estão à beira da falência. Casos de suicídio no campo têm aumentado, revelando o desespero de famílias que não encontram amparo efetivo do governo.
Esses produtores, que sustentam a base da agricultura familiar e da segurança alimentar nacional, não foram convidados para jantares de Estado nem têm acesso a missões comerciais internacionais. Para eles, o discurso de justiça social ainda não se traduziu em políticas públicas eficazes.
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Lula viajar e janta com os super ricos do Brasil
Entre os convidados estavam:
- Wesley e Joesley Batista (JBS) – representantes do maior frigorífico do mundo
- Renato Costa (JBS) – executivo da área de carnes
- Marcos Molina (BRF) – líder em alimentos processados
- João Sampaio (Minerva Foods) – exportador de carne bovina
- Ricardo Santin (ABPA) – Associação Brasileira de Proteína Animal
- Roberto Perosa e Júlio Ramos (Abiec) – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes
- Marcio Cândido Ferreira (Cecafe) – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil
- Décio Coutinho (Abra) – Associação Brasileira de Reciclagem Animal
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Reações e implicações
- Setores da oposição apontam hipocrisia e populismo na retórica presidencial.
- Analistas políticos destacam o risco de desgaste da imagem de Lula entre eleitores que esperam medidas concretas contra privilégios.
- Produtores independentes e cooperativas familiares denunciam o abandono e a falta de representação nas decisões estratégicas do governo.
Esse contraste entre o palanque e a prática revela um dilema central do atual governo Lula: como conciliar a retórica popular para se manter no poder com alianças históricas e interesses consolidados no topo da pirâmide econômica.


















