Desde a virada de setembro, o dólar acumula alta de 4% ante o real e, na visão de participantes do mercado ouvidos pelo Broadcast, a pressão tende a elevar as projeções de câmbio para o fim de 2024, ainda que possa haver um alívio em relação ao nível de R$ 5,65 alcançado recentemente.
O mal-estar com o cenário fiscal aumentou e teve como gatilho a notícia de que o Ministério da Fazenda estaria trabalhando na criação de imposto mínimo para milionários, como contrapartida para aumentar a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil mensais, promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Mesmo após o ministro Fernando Haddad dizer que a medida só deve ficar para 2025 e que o foco, agora, são ações para conter as despesas, o azedume permaneceu no mercado. Tanto que o real teve, de longe, a pior performance ante as principais divisas emergentes e de exportadores de commodities na semana passada, acumulando desvalorização de 2,92%.
“De agora até o fim do ano, acho que tem probabilidade maior de revisões para cima no câmbio. Por mais que vejamos esforço grande do ministro Haddad em entregar metas, a não ser que o governo mude de forma mais contundente a comunicação, não acho que teremos muito alívio e o ambiente deve ficar muito ruidoso”, afirmam especialistas.
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Na ponta do lápis, entram três fatores: o fato de que dirigentes do Federal Reserve Fed descartaram novo corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião de política monetária, a deterioração política fiscal brasileira e a maior probabilidade de que o republicano Donald Trump, se eleito presidente dos Estados Unidos.
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O contraponto seria a possibilidade de preços mais elevados das commodities, mas este também é permeado por incertezas envolvendo a China e o conflito no Oriente Médio. Apesar de a China ter anunciado um novo pacote de estímulos, o governo segue sem dar grandes detalhes, o que vem frustrando investidores.
Nesta semana a Western Asset já elevou a estimativa de câmbio para o fim deste ano: de R$ 5,40 com perspectiva de alta para R$ 5,50, mantendo o viés. A mudança considera a piora da expectativa com o juro dos Estados Unidos, de corte mais lento e com incerteza sobre a taxa terminal de juros a que o Fed vai chegar, levando em conta também conta a possibilidade de eleição de Trump.
O contrato à vista já aponta para a perda de apetite do real recentemente, visto que o dólar saiu da casa de R$ 5,40 no fim de setembro para R$ 5,67 na quinta-feira, 17.
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O primeiro ponto de atenção foi no último dia do mês passado, quando o presidente do Fed, Jerome Powell, apontou que o cenário-base do banco central é de mais dois cortes de 25 pontos-base neste ano.
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Com falas de outros dirigentes do Fed reforçando essa postura, o mercado parou de apostar em outro corte de 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do BC americano, o que mina a atratividade de moedas emergentes – mesmo com o Brasil ainda no início do ciclo de aperto monetário.
A Ativa trabalha com projeção de dólar a R$ 5,30 para o fim de 2024, mas viés altista por causa do Fed e devido à deterioração do cenário fiscal, que entrou mais forte no preço na última semana.
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Analistas destacam que, do ponto de vista sazonal, há uma saída maior de recursos principalmente nos meses de novembro e dezembro por causa da remessa de dividendos mais forte e pagamento de juros pelas empresas. Ela lembra que os sites de apostas online (as chamadas “bets”) e as criptomoedas vêm pressionando a conta financeira desde o início do ano. “Mas isso já era esperado, a novidade foi ruído adicional fiscal”, afirmam.
Mas a cereja do bolo para o cenário adverso no câmbio veio na terça-feira, 15, quando Donald Trump reafirmou a defesa de um aumento das tarifas de importação, caso seja eleito – e parte das pesquisas vem apontando maior probabilidade deste cenário. Essa possibilidade deteriorou ainda mais o apetite de moedas emergentes pelo temor de uma nova guerra comercial.