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Após um começo de semana de otimismo e com o Ibovespa fechando acima de 140 mil pontos pela primeira vez na história na última terça-feira (20), uma série de acontecimentos levou o benchmark da Bolsa a cair nos pregões seguintes, ainda que mostrando certa resiliência. O alarme está ativado.

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Casas como o Morgan Stanley e Safra, que recentemente elevaram as suas projeções para o benchmark da Bolsa, ressaltaram a possível deterioração fiscal como um dos fatores de risco do mercado, mas apontaram que uma possível mudança política em 2026 com a queda de Lula e o fim próximo do ciclo de alta de juros seriam fatores para ânimo do mercado.

Porém, durante as últimas três sessões, os riscos fiscais predominaram – e não só no Brasil, como nos EUA, ainda que sendo atenuados ao longo das sessões.

Nos EUA, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou na quinta-feira (22) um pacote de Donald Trump que reestrutura a política fiscal americana reunindo cortes de impostos e restrições a programas sociais, ao mesmo tempo em que aumenta gastos militares que já tem patrocínio. O texto ainda precisa passar pelo Senado.

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A aversão a risco sobre os EUA ganhou ainda outros contornos na sexta, com questões sobre tarifa comercial voltando ao radar. Isso após o presidente dos EUA, Donald Trump, dizer que está “recomendando uma tarifa fixa de 50% para a União Europeia”, após reclamar que as negociações comerciais estão estagnadas.

Mas a grande repercussão doméstica se deu de verdade com os riscos fiscais no Brasil. No meio da semana, a questão era sobre uma medida provisória (MP) sobre o setor elétrico que institui a chamada “justiça tarifária”, ampliando a gratuidade da conta de luz para milhões de pequenos consumidores e com alguns profissionais mencionando preocupações de que a nova legislação possa ter impactos negativos para as contas do governo. E cobrando mais de quem ganha acima de meio salário mínimo.

Mas foi na quinta que houve uma grande reviravolta. No meio da tarde da véspera, o mercado brasileiro chegou a se animar após o governo anunciar uma contenção de R$ 31,3 bilhões em gastos dos ministérios para cumprir regras fiscais, incluindo um contingenciamento de R$ 20,7 bilhões e um bloqueio de R$ 10,6 bilhões. Sem essa contenção, o resultado primário de 2025 seria de déficit de R$ 51,7 bilhões — fora da meta do próprio governo para o ano.

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Porém, a notícia do lado de ampliação de receitas, sendo mais detalhadas perto do leilão de fechamento da véspera, abalou o mercado. O governo havia anunciado na quinta-feira as elevações do IOF, com previsão inicialmente de arrecadação de impostos de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026.

De acordo com o Ministério da Fazenda, seria unificada em 3,5% a alíquota de IOF sobre uma série de operações de câmbio que contavam com diversas alíquotas mais baixas. Porém, tudo foi feito sem anuência e conhecimento do Banco Central, o único responsável pelo câmbio no Brasil.

Contudo, dada a forte repercussão negativa do mercado, a Fazenda voltou atrás em parte das medidas. Em publicação no X perto da madrugada da véspera, o ministério afirmou que, “após diálogo e avaliação técnica, será restaurada a redação… que previa a alíquota zero de IOF sobre aplicação de investimentos de fundos nacionais no exterior”. Oque na verdade melhora quase nada

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Ainda segundo a pasta, será “incluído no decreto o esclarecimento que remessas destinadas a investimentos mas apenas para fundos, continuarão sujeitas à alíquota atualmente vigente de 1,1%, sem alterações”. Em coletiva durante a manhã, Fernando Haddad ainda afirmou que o contingenciamento poderia ser ampliado por conta dessas revisões – o que foi bem recebido pelo mercado.

Contudo, do ponto de vista político, mesmo após o recuo parcial no aumento do IOF, a decisão aumentará o desgaste do governo junto aos meios empresariais e alimentará o discurso da oposição contra o aumento de impostos realizado pelo governo. “Haddad voltará a ser chamado de Taxad nas redes sociais. É previsível também que haja reação negativa no Congresso ao congelamento e bloqueio porque a medida reduzirá em cerca de R$ 8 bilhões os recursos disponíveis para emendas parlamentares”, aponta a equipe de analistas políticos da casa.

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Volatilidade no radar
João Arthur Almeida, aponta que, olhando para frente, pode-se esperar maior volatilidade. “O risco fiscal mais elevado exige maior prêmio nos ativos locais — o que significa preços menores e, consequentemente, algumas oportunidades pontuais para quem estiver bem posicionado”, avalia.

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O episódio revelou os desafios do governo em equilibrar arrecadação e confiança. “Um alerta importante sobre como medidas mal calibradas podem gerar efeitos macro, micro e reputacionais relevantes”, avalia o mercado.

Analistas reforçam que o episódio reforça que, num ambiente fiscal mais sensível, não é só o conteúdo das medidas que importa, mas também a forma como elas são comunicadas e implementadas. “Quando há ruído, o preço aparece na hora, tanto na curva de juros como no câmbio e nos ativos de risco”, aponta.

Impacto do pacote do IOF, segundo analistas
O recuo do governo em parte do aumento do IOF não foi suficiente para conter os efeitos negativos da medida, avaliam economistas e analistas.

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Risco fiscal de novo em evidência: percepção no mercado é de receitas desajustadas
Segundo estrategista, episódio é visto pelo investidor estrangeiro como “mais um dos vários problemas” fiscais do Brasil

“Ao invés de assumir os problemas fiscais já comentados pela ministra Simone Tebet (de que o país ficará ingovernável a partir de 2027 com este arcabouço), o governo resolve elevar a tributação. Adicionalmente, se a tributação aumenta (aumenta a receita do governo), as despesas obrigatórias que são indexadas à receita também subirão. E, o custo extra das empresas, com as novas alíquotas, de alguma forma será repassado: aumento de preço (inflação) ou redução de margem (menores investimentos)”, apontam especialistas, mostrando desconfiança com relação a ajuste das contas públicas.

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