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O dólar encerrou esta sexta-feira cotado a mais de R$ 5,59, o maior valor desde janeiro de 2022, indicando uma desvalorização de aproximadamente 6% no mês. Uma série de fatores contribuiu para este cenário: as frequentes declarações do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) sobre a situação das contas públicas brasileiras, ataques à política monetária liderada por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) e as dificuldades que os Estados Unidos estão enfrentando para reduzir a taxa de juros, atualmente entre 5,25% e 5,50% ao ano. No trimestre o dólar já acumula 15% de alta com comando de Lula.

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No acumulado do ano, o real já perdeu 11,9% de seu valor em relação ao dólar, figurando entre as moedas de países emergentes com maior desvalorização no período. Segundo dados do portal Investing.com, essa queda é ainda mais acentuada que a do peso argentino, que apresenta uma desvalorização de 11% desde o início do ano.

Um dos impactos significativos desse comportamento do dólar é na inflação. Conforme o boletim Focus, que é elaborado semanalmente pelo Banco Central junto a bancos, consultorias e corretoras, a mediana das projeções para o IPCA subiu de 3,52 % no início do ano para 3,98% na segunda-feira passada (24).

Lula ataca Campos Neto e ignora demais diretores que votam pelo Copom

Nesta sexta (28), durante entrevista à rádio mineira “O Tempo”, Lula lançou uma nova rodada de críticas a Campos Neto. Ele mencionou que o nível de juros no Brasil melhorará com o próximo presidente da autoridade monetária. O mandato de Campos Neto se encerra em 31 de dezembro. Entre os nomes mais cotados está Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, que já foi número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda e tem boa relação com Lula.

Lula enfatizou: “O Presidente da República não pode entrar em conflito com o presidente do BC só porque ele foi escolhido pelo governo anterior, pensa ideologicamente como o governo anterior e não está executando suas funções adequadamente.”

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A afirmação foi vista como uma confirmação das tentativas do Executivo de influenciar a política monetária. Desde o início de seu mandato, Campos Neto tem sido um alvo frequente de críticas de Lula e do PT, que pressionam pela redução dos juros.

Lula argumenta que é impossível discutir economia sem colocar a questão social em pauta.
No dia 11, durante a abertura do Fórum de Investimentos Prioridade 2024 no Rio de Janeiro, Lula proferiu um discurso que teve grande impacto no câmbio. Ele deixou claro que seu governo não prioriza o ajuste fiscal e o corte de gastos: “O aumento da arrecadação e a redução da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público.”

Lula justificou o desequilíbrio fiscal, afirmando que não é possível falar de economia sem considerar a questão social e criticou a visão do mercado financeiro, argumentando que ele não está isolado da política e da sociedade.

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A moeda americana começou o dia sendo vendida a R$ 5,375, mas subiu para R$ 5,424. Ironicamente, momentos antes, Lula havia destacado a estabilidade do país para investidores presentes: “O Brasil merece ser digno de confiança. Sempre digo que a estabilidade é o mais importante para o investidor. E o Brasil tem isso de sobra para oferecer.”

Dados divulgados pelo BC nesta sexta mostram o contrário: e o déficit primário nos 12 meses até maio foi de R$ 280,2 bilhões, equivalente a 2,53% do PIB e 0,11 ponto percentual acima do déficit acumulado nos 12 meses até abril.

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Nem decisão unânime do Copom segura o dólar: declarações de Lula influenciaram alta
Mesmo a decisão unânime do Copom de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano na reunião dos dias 18 e 19 não conseguiu segurar o dólar, que encerrou o dia seguinte (20) a R$ 5,4618 para venda, após uma leve tentativa de queda de 1% no início do dia.

Na ocasião, o presidente disse à Rádio Verdinha, do Ceará, que foi uma pena a decisão do Copom. “Quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Porque quanto mais a gente pagar de juros, menos a gente tem para investir aqui dentro. E isso tem que ser tratado como gasto”, disse Lula.

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Nesta quarta-feira (26), Lula intensificou suas críticas, questionando a necessidade de cortar gastos para melhorar o equilíbrio fiscal do governo. Ele ponderou sobre a possibilidade de aumentar a arrecadação para resolver o problema.

Lula também descartou a proposta de desvincular o Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo, benefício concedido a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Ele reiterou que não se deixa influenciar pelos “nervosismos do mercado” e que o mercado financeiro tende a precificar pessimismo. A proposta é defendida por integrantes da equipe econômica, como a ministra do Planejamento, Simone Tebe

Lula chama de “cretinos” quem associa alta do dólar às suas declarações


Na quinta-feira (27), durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, Lula criticou aqueles que apostam na valorização do dólar em relação ao real e chamou de “cretinos” quem associou a aceleração da alta às suas declarações sobre a área fiscal.

Lula minimiza os riscos da persistente depreciação cambial e suas implicações para a inflação, atribuindo a volatilidade ao cenário externo e enfatizando que o Brasil vive um bom momento.

O cenário internacional também tem seu peso. A incerteza global, especialmente em relação à economia e aos juros nos Estados Unidos, afasta investidores em busca de mercados mais seguros para seus recursos.

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A desvalorização do real reflete, além disso, a incerteza interna, especialmente relacionada ao cenário fiscal, e causa um impacto direto na inflação através de um “repasse cambial”. Um estudo do Banco Inter indica que uma depreciação de 1% na taxa de câmbio aumenta a inflação em 0,16 ponto percentual um ano após o choque.

As projeções para o câmbio no final do ano têm sido revisadas para cima nas últimas semanas, de acordo com o boletim Focus. Na segunda-feira, as projeções estavam em R$ 5,15, subindo dos R$ 5,00 previstos no início do ano.

Instituições financeiras estão ajustando suas estimativas tanto para a inflação quanto para o câmbio. O PicPay elevou sua projeção para o IPCA no final de 2024 de 3,8% para 4,1%. O BTG Pactual aumentou sua projeção de câmbio para R$ 5,20 em 2024 e R$ 5,30 em 2025, enquanto manteve a previsão para o IPCA em 2024 em 4%, refletindo a piora do cenário cambial e o aumento das expectativas de inflação.

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