O primeiro dia de sessões oficiais da Cúpula do Futuro na ONU começou com uma grande controvérsia neste domingo (22), após uma intervenção inicial da delegação russa, que rejeitou categoricamente o documento negociado durante meses, chamado Pacto do Futuro. Os russos pediram a alteração do texto, com o argumento de que ele “só beneficia o Ocidente”.
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O Pacto do Futuro visa estabelecer as bases para a reforma do Conselho de Segurança, das instituições financeiras da ONU e de um maior compromisso com o clima.
Até hoje, os esforços da Rússia para moderar o conteúdo do documento eram conhecidos, mas esperava-se que ele fosse aprovado na Assembleia Geral por consenso dos 193 Estados, o que acabou não acontecendo.
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“Não houve nenhuma reunião em que todas as delegações se sentaram para estudar o documento parágrafo por parágrafo. As emendas foram apresentadas apenas para beneficiar os países ocidentais. Isso não pode ser chamado de multilateralismo. É um grande fracasso para o princípio da ONU da igualdade soberana dos Estados”, disse a delegação russa.
Os representantes da Rússia disseram ainda que o pacto viola o princípio da não interferência. “Não leva em conta que é o Ocidente que não está cumprindo suas obrigações em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e essa falta de compromisso é sempre atribuída ao Sul global”, acrescentaram.
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Ditaduras alinhadas à posição russa
A tentativa de boicote da Rússia, por meio de uma emenda ao texto, foi rejeitada com outra moção, apresentada pelo grupo africano e liderada pelo Congo, para não ir adiante.
A moção a favor da não inclusão da emenda russa foi apoiada por 143 países, 15 abstenções e sete votos contra (a própria Rússia, Sudão, Coreia do Norte, Nicarágua, Irã, Síria e Belarus).
Ao lado da Rússia nas críticas ao documento esteve também a delegação da Venezuela, país comandado pelo ditador Nicolás Maduro. Os venezuelanos falaram em uma “atitude arrogante” dos países ocidentais, que não contempla “o princípio sagrado de não interferência nos assuntos de outros Estados”.
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A adoção do Pacto para o Futuro, do qual a Rússia também declarou que irá se desvincular, deve ser feita por consenso e é acompanhada de forma complementar por um Pacto Digital para chegar a um acordo sobre novas formas de regulamentar desafios como a inteligência artificial (IA) e uma Declaração para as Gerações Futuras.
Secretário-geral da ONU fala em “resgatar multilateralismo do abismo”
A sessão da Cúpula do Futuro na Assembleia Geral continuou com os comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, que disse que a reunião tem o objetivo de “resgatar o multilateralismo do abismo”.
“Em relação à paz e à segurança, também seria um avanço tornar o Conselho de Segurança mais reflexivo do mundo atual, abordando a sub-representação histórica da África, da Ásia e do Pacífico, e da América Latina”, disse Guterres.