Um parecer emitido pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, mantém a atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob suspeita na mais recente fase da operação que mira a chamada “Abin paralela”. A investigação aponta que membros dos Três Poderes da República e jornalistas foram espionados pela Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Além disso, o órgão teria sido usado para proteger os filhos do ex-presidente em investigações.
De acordo com a apuração do jornal Folha de S. Paulo, as suspeitas relatadas por Gonet fizeram com que o ministro Alexandre de Moraes negasse o compartilhamento da investigação da Polícia Federal com a corregedoria da Abin.
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No documento, Gonet teria afirmado que compartilhar as informações “não parece recomendável neste momento processual” diante da “aparente resistência identificada no interior” da Abin. “Em fases anteriores desta investigação, foram identificadas ações das novas gestões da Abin escolhidas por Lula, indicativas da intenção de evitar a apuração aprofundada dos fatos, o que ensejou a avocação do procedimento disciplinar ali instaurado pela Controladoria-Geral da União”, afirmou o procurador-geral, de acordo com a Folha.
Gonet teria pontuado ainda que não viu urgência na abertura de eventuais sindicâncias internas na Abin, como teria sugerido a Polícia Federal.
Ainda de acordo com a apuração da Folha, o parecer da PGR e a decisão de Moraes sobre o compartilhamento das provas levantaram a desconfiança entre servidores da Abin de que a cúpula da agência pode estar entre os alvos dos investigadores por suposta obstrução de Justiça.
Trechos de relatório da PF reforçam suspeitas no caso da Abin paralela
As suspeitas sobre as novas gestões da Abin de Lula são reforçadas por trechos do relatório da PF. No documento, a PF aponta que o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, teria participado de uma reunião sobre as investigações enquanto ainda não tinha assumido o cargo. A reunião teria ocorrido em 28 de março de 2023, mas Corrêa foi nomeado somente em 29 de maio.
Neste caso, a Polícia Federal afirma não ter encontrado normativo interno da Abin que autorizasse o compartilhamento de informações sigilosas com pessoas alheias à agência. “Não se identificou, por oportuno, normativo que autorizasse cidadãos alheios aos quadros da ABIN – Agência Brasileira de Inteligência– receberem, dentre outras, informações sigilosas relacionadas às diligências em andamento”, diz trecho da investigação da PF citado por Moraes.
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A atuação do ex-diretor adjunto da Abin, Alessandro Moretti, também reforça as suspeitas. Ele foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em janeiro, após ter sido citado nominalmente no inquérito da Polícia Federal que aponta que havia uma tentativa de atrasar as investigações do suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades. A época, a PF afirmou que “a direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação”.