Nova política de dividendos da Petrobras pode decidir o futuro do papel. A Petrobras (PETR3;PETR4) está prestes a divulgar sua nova política de dividendos, o que tem despertado o interesse do mercado em geral. A gestão da empresa planeja propor essa nova política aos seus conselheiros até o final do mês. Segundo Sergio Caetano Leite, CFO da estatal, os dividendos do segundo trimestre de 2023 serão declarados com base nessa nova política.
Atualmente, a política em vigor estabelece pagamentos trimestrais, utilizando uma fórmula mínima que corresponde a 60% do fluxo de caixa das operações (FCO), menos os investimentos (capex).
ENTENDA: Sob Lula gasolina subiu 11,8%. Controle de preços da Petrobras não segurou
Em maio, durante a divulgação dos resultados trimestrais, a Petrobras anunciou a aprovação do pagamento de remuneração aos acionistas, composta por uma combinação de dividendos e juros sobre capital próprio, resultando em um valor aproximado de R$ 1,89 por ação. Essa quantia implicou em um dividend yield de 7,4% para PETR4 no dia.
LEIA: O que movimenta o mercado na semana. Fique de olho
Entretanto, nessa mesma ocasião, a empresa comunicou aos acionistas que seu Conselho de Administração (CA) determinou que a Diretoria Executiva elaborasse uma proposta para ajustar o planejamento estratégico em andamento e aprimorar a Política de Remuneração aos acionistas da Petrobras (PETR3) (PETR4). Essa proposta pode até incluir a possibilidade de recompra de ações.
Diante disso, os analistas do Bradesco BBI consideram esse evento como o mais importante para a tese de investimento da Petrobras neste ano.
VEJA: Bolsonaro recebe título de comendador sob gritos de “mito”
Com base nesse contexto, o Bradesco BBI realizou uma pesquisa com clientes institucionais, buscando entender as expectativas do mercado em relação ao evento e o que já está precificado nas ações da Petrobras.
Foram levantadas seis perguntas-chave para analisar esse cenário. Aguarda-se, portanto, a decisão da diretoria, enquanto o mercado permanece atento às possíveis mudanças na política de dividendos e suas consequências para o preço das ações da empresa.
MAIS: Fala de Lula contra opositores é semelhante a de Hitler, afirma Malafaia
Ao todo, tiveram 41 respostas à nossa pesquisa e destacaram os principais resultados.
1 – Sobre a nova política de dividendos a ser aprovada pela Petrobras em breve: a) a Petrobras manterá pagamentos trimestrais ou b) diminuirá a frequência de pagamentos?
Segundo o Bradesco BBI, a maioria dos entrevistados, 31 dos 41 (ou 76%), acredita que a Petrobras manterá os pagamentos de dividendos trimestrais, enquanto os restantes 10 entrevistados (ou 24%) acreditam que a frequência dos pagamentos diminuirá.
O BBI concorda com a opinião da maioria e também acredita que os pagamentos continuarão sendo realizados trimestralmente, pois essa prática pode incentivar o fornecimento de recursos ao governo.
No entanto, o banco alerta que se a frequência de pagamento diminuir, é provável que isso leve a uma reação negativa no preço das ações da empresa.
2 – Se a empresa introduzir recompras de ações como forma de remuneração aos acionistas, a recompra: a) Terá um peso pequeno dentro da remuneração total, que permanecerá focada em caixa; b) Terá um peso equilibrado com valor em dividendos em dinheiro (50% a 50%) ou c) Terá um peso maioritário na remuneração total, passando a remuneração em caixa a ter um peso reduzido?
LEIA: Morgan Stanley alerta contra corte de juros em mercados emergentes, como o Brasil
De acordo com o banco, a grande maioria dos respondentes, 33 deles (ou 80%), indicaram que a estatal adotará a política a), enquanto 7 (ou 17%) optaram pela alternativa b) e apenas 1 (ou 3%) escolheu a alternativa c).
Os analistas do BBI também compartilham dessa visão. Eles acreditam que as recompras de ações terão uma participação minoritária na remuneração geral dos acionistas.
3- Se as recompras forem introduzidas, elas serão focadas em: a) ações ON (PETR3, com direito a voto); b) equilíbrio entre as ações ON e PN ou c) ações PN?
Os analistas do banco destacam que o mercado apresenta uma divisão de opiniões em relação a essa questão e não está certo do que esperar.
Dos respondentes, 18 (ou 44%) optaram pela alternativa a), com foco nas ações ordinárias (ON), enquanto 19 (ou 46%) escolheram a alternativa b), indicando um equilíbrio entre ON e ações preferenciais (PN). Por sua vez, 4 respondentes (ou 10%) consideraram um foco na recompra de papéis preferenciais.
Para o Bradesco BBI, há argumentos a serem considerados em cada cenário. Por um lado, a Petrobras poderia optar por recomprar apenas ações ON, uma vez que elas representam cerca de 60% do capital da empresa. Nesse caso, a ótica positiva estaria relacionada à narrativa de que o governo está aumentando sua influência sobre a empresa, enquanto a ótica negativa estaria no fato de que as recompras poderiam reduzir o caixa inicial para o governo.
Por outro lado, uma minoria de investidores indicou que as recompras deveriam ser focadas em ações PN. O raciocínio por trás disso é que, se a administração deseja demonstrar uma alocação sólida de capital, a recompra deveria se concentrar em ações PN, pois elas são negociadas com um desconto injustificado de 11% em relação às ações ON.
No geral, a equipe de análise do BBI inclina-se mais a pensar que as recompras poderiam ser igualmente equilibradas entre ações ON e PN, mas o mercado ainda aguarda para ver qual será o anúncio oficial. Eles ressaltam que qualquer que seja a decisão, o resultado terá um impacto significativo no spread (diferença de cotações) entre as ações ON e PN da Petrobras.
4 – O cálculo do pagamento de dividendos: a) Permanecerá como percentual do FCO-capex (ou fluxo de caixa das operações menos os investimentos) ou b) Mudará para uma porcentagem do lucro líquido?
LEIA ESTA: Mais da metade das indústrias acreditam em mais endividamento no 2º semestre
Os participantes do levantamento demonstram uma grande incerteza em relação ao que esperar sobre o tema. Entre eles, 20 respondentes (ou 49%) esperam que a política de pagamento de dividendos permaneça como uma porcentagem do fluxo de caixa das operações (FCO) menos os investimentos (capex), enquanto 21 (ou 52%) esperam que ocorra uma mudança para uma porcentagem do lucro líquido.
SAIBA TAMBÉM: Líder do governo Lula posta informação falsa e economista mostra a verdade
Há alguns meses atrás, havia uma percepção maior de que o pagamento poderia mudar para uma variação do lucro líquido. No entanto, após interações recentes com a empresa, a opinião mudou, e agora acredita-se que a proposta provavelmente continuará com base em uma porcentagem do FCO-capex. Contudo, será necessário aguardar para conhecer a decisão final da diretoria sobre o assunto.
5 – Supondo que não haja diferenças entre FCO-capex e lucro líquido para remunerar os acionistas, a nova política de dividendos (incluindo recompras) assumirá um payout (dividendo em relação ao lucro) de: a) enos de 40%, b) e 40% a 60%, c) de 60% a 80% ou d) e 80% a 100%?
6 – Para que as ações da Petrobras tenham uma forte resposta positiva ao anúncio sobre a nova política de dividendos, o payout (incluindo recompra) deveria ser no mínimo: a) 40% (rendimento de 10% nos próximos 12 meses), b) 60% (rendimento de 15% nos próximos 12 meses), c) 80% (rendimento de 20% para os próximos 12 meses), d) 100% (rendimento de 25% para os próximos 12 meses).
Conforme mencionado pelos analistas do BBI, parece que o mercado tem preferências claras em relação ao pagamento de dividendos da Petrobras. De acordo com o gráfico apresentado, o limite desejado pelo mercado é um pagamento de 60%, embora alguns entrevistados indiquem que estariam interessados em um pagamento de até 80%.
Um pagamento acima de 60% resultaria em um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de pelo menos 15% nos próximos 12 meses, o que é considerado atraente e com um prêmio merecido em relação à média do setor, que é de cerca de 10% considerando recompras de ações.
Os analistas acreditam que pouco mudará em relação à política anterior de dividendos da Petrobras, e veem a recente fraqueza nas ações da empresa como uma oportunidade para os investidores apostarem em uma recuperação no valor das ações.