Alta recorde em devedores da B3 vilã pode ser a alavancagem. Isto porque, a B3 (B3SA3) divulgou uma atualização do rol de inadimplentes como de praxe. Mas o tamanho da lista assustou. Em vez das 3 páginas habituais do documento, este tinha 51 páginas, com mais de 2 mil CPFs em débito por operações na bolsa brasileira. De acordo com especialistas, há um principal motivo que pode ser apontado como causa do aumento de devedores: a alavancagem.
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Isto porque, existem muitos “gurus” que incentivam estas práticas. “Alavancagem: como ganhar muito com isso”, “Como operar day trade alavancado em ações mesmo com pouco dinheiro”, “Alavancagem de R$ 70 para R$ 1.600 em 35 minutos” são chamadas que você encontra em poucos cliques no YouTube. Estes vídeos motivam as pessoas a tentarem a sorte nessas operações. O problema está no que não é dito nesses vídeos.
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Devido à falta de conhecimento adequado em operações no mercado de capitais as pessoas entram em uma bola de neve em dívidas. Enquanto o número de pessoas físicas com cadastro na bolsa de valores aumenta, chegando a 3,3 milhões de CPFs individuais no final de agosto – eram 600 mil em 2017 -, uma quantidade significativa desses investidores ingressam pela promessa de ganhos fáceis e rápidos, com instrumentos financeiros de risco, caso da alavancagem.
A Alavancagem e a inadimplência na B3
No entanto, imagine o seguinte cenário: o País vive uma pandemia, os salários foram reduzidos quase pela metade, a inflação só aumenta e a rentabilidade da poupança é praticamente nula. Mas as contas continuam chegando, cada vez pesando mais no bolso.
Desta forma, operar alavancado é negociar com dinheiro emprestado para potencializar os ganhos (ou prejuízos). Normalmente, o dinheiro emprestado vem da corretora de valores em que o investidor opera.
Entretanto, esse dinheiro não entra na conta do investidor, é um dinheiro exclusivo para ser operado dentro do home broker da corretora. Em vez da pessoa investir R$ 500, com margem de lucro pequena, ela pode operar R$ 100.000 e potencializar os lucros.
Contudo, o empréstimo disponível, a pessoa comprou R$ 100.000 em ativos, esperando 1% de lucro. Os ganhos serão com base nos R$ 100.000 aplicados, ou seja, R$ 1.000 de lucro – muito mais do que os R$ 5 que resultariam dos R$ 500 investidos.
Porém,é importante entender que se os ativos caírem 1%, serão igualmente R$ 1.000 de prejuízo. Mas a margem de garantia era de R$ 500. Nesse caso, perderam-se os R$ 500 e no lugar se formou uma dívida.
Embora, a alavancagem seja vilã nestas situações, isto ocorre por falta de conhecimento do investidor. A alavancagem é um instrumento financeiro importante para o mercado. Porém, só deve ser utilizada por investidores profissionais. As análises para investimentos de risco desse nível envolvem contexto macroeconômico, financeiro e sobre a própria operação.
A melhor forma de “quebrar a banca” no day trade
Todavia, esse processo de aprendizado pode ser bem doloroso. No primeiro semestre de 2021, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recebeu 100 pedidos de indenização apresentados por investidores que alegam prejuízos com operações na bolsa de valores. O que equivale a dizer que o número é quase 10 vezes mais do que em 2020, quando a CVM recebeu 11 pedidos.
Por esta razão, o volume é tão maior que a autarquia precisou criar uma coordenadoria exclusivamente dedicada ao Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos (MRP), que já existia, mas era uma unidade menor dentro da comissão.
Contudo, vale esclarecer que o MRP é mantido pela B3 e administrado pela BSM, um braço autorregulador do mercado de capitais. Ele serve para assegurar aos investidores um ressarcimento de até R$ 120 mil por prejuízos causados, comprovadamente, por erros ou omissões nas operações do mercado.
Nesta situação, a CVM é como uma segunda instância do recurso. Sobem para a autarquia os casos negados pela BSM, mas os investidores pediram recurso da negativa.
Com isso, R$ 7,6 milhões foram ressarcidos em 2020. Neste ano, no primeiro semestre, foram 439 pedidos. Desta forma, o aumento de casos corresponde ao aumento de pessoas físicas ingressando na bolsa de valores. Em 2020, foram recebidas pelo BSM 1.422 solicitações de ressarcimento de investidores, cerca de 30% delas foram atendidas por validar os critérios de ressarcimento.
No entanto, o guia para solicitação de ressarcimentos do BSM deixa claro que o MRP não procura ressarcir decisões erradas de investimentos, e sim erros nas operações, seja por falha de sistema, dano no aplicativo da corretora, entre outros, mas que sejam técnicos e tenham provas.