Funcionário do Credit Suisse usa Avó de 92 anos para Lucrar no Mercado
O então funcionário do Credit Suisse Securities (USA), Luiz Mori, e sua avó nonagenária, a senhora Mituco Haga, são alvo de uma investigação inusitada da CVM. O inquérito do mercado de capitais investigou indícios de uso de uma conta de Mituco pelo neto em operações de “front running”.
A prática acontece quando um intermediário de mercado usa informações sobre uma ordem em bloco, capaz de influenciar o preço de um ativo, em proveito próprio. A CVM rejeitou proposta de acordo e vai levar à frente uma acusação de suposta prática não equitativa no mercado.
O Inquérito
Segundo o inquérito, Mori se valia do conhecimento prévio sobre operações realizadas por clientes do Credit Suisse Brasil e do Deutsche Bank para se antecipar a elas e ganhar na outra ponta.
A suspeita surgiu da BM&FBovespa Supervisão de Mercados (BSM), que constatou operações atípicas de day trade realizadas de forma sistemática pela investidora. Os negócios foram realizados na bolsa por intermédio da XP Investimentos e da Itaú CV S.A., em especial de junho de 2012 a fevereiro de 2013.
Entre as evidências de irregularidades apontadas pela CVM está o perfil incompatível de Mituco com o grau de sofisticação das operações. As investigações mostram que ela iniciou suas operações na bolsa de valores aos 92 anos. Operações atípica considerando o tipo de operação realizada (day trade), a diversidade de ativos operados, que incluem várias small-caps com baixa liquidez e a frequência das operações.
A CVM rastreou o envio de ordens por aplicativos, portal e homebroker das corretoras a partir de dispositivos móveis localizados nos Estados Unidos, onde Mori residia. Também foram levados em conta na acusação a elevada taxa de sucesso das operações. Por se tratarem de transações feitas por aplicativos a principiante Mituco teve lucro em 311 das 432 operações day trade realizadas, um ganho de R$ 450,7 mil. A probabilidade de sucesso nesse nível é de uma em 87 quintilhões, diz a acusação.
Investigação
O inquérito aponta que Mori teve ajuda de Bruno Guisard, responsável por 28% do volume negociado pelo fundo Deutsche Bank AG London por meio da corretora do banco e pelo envio de ordens do Deutsche London nas operações em que Mituco Haga foi contraparte, com 67% da quantidade de ações negociada.
Além da conta dela, ele usou também as contas de Rafael Spinardi e da sua empresa Catarsis na Um Investimentos. Segundo a CVM, os dois teriam sido coniventes com o esquema em troca de vantagens financeiras. O lucro total do esquema de junho de 2012 a abril de 2014 foi de R$ 1,84 milhão.
Na tentativa de negociação com a CVM, Mori propôs pagar R$ 100 mil e deixar de atuar no mercado por cinco anos. Já Guisar tentou encerrar o processo pagando R$ 80 mil. Spinardi e Catarsis se comprometiam a não atuar na negociação ou na intermediação de operações por cinco anos. Alem pagar à CVM, em conjunto, o montante total de R$ 150 mil. A CVM rejeitou o acordo, que encerraria o caso sem julgamento e assunção de culpa. Por unanimidade, optaram por rejeitar as propostas apresentadas levando em conta a gravidade das acusações.
As informações foram divulgadas nesta quinta-feira, 3. O diretor Pablo Renteria foi sorteado como relator do processo sancionador 03/2015, que deverá ir a julgamento.