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Bolsonaro abre o jogo para o Wall Street Journal. O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro em entrevista ao WSJ disse que planeja retornar ao Brasil em março para liderar a oposição política ao presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva e se defender das acusações de que ele incitou ataques de manifestantes a prédios do governo no mês passado.
“O movimento de direita não está morto e continuará vivo”, disse Bolsonaro em sua primeira entrevista desde que deixou o Brasil para a Flórida no final do ano passado, após uma derrota eleitoral apertada para Lula da Silva. Ele disse que trabalharia com apoiadores no Congresso e nos governos estaduais para impulsionar o que ele chamou de políticas pró-negócios e para combater o aborto, o controle de armas e outras políticas que, segundo ele, vão contra os valores familiares.

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Lula prometeu expandir aumentar o papel do Estado na economia, medidas que Bolsonaro e seus aliados dizem que sobrecarregariam o maior país da América Latina com dívidas e assustariam o investimento estrangeiro.

Bolsonaro, que não admitiu a derrota, pareceu moderar suas críticas ao resultado da eleição. “Perder faz parte do processo eleitoral”, disse. “Não estou dizendo que houve fraude, mas o processo foi tendencioso.

As autoridades eleitorais do Brasil declararam Lula vencedor da corrida presidencial com 50,9% dos votos. A votação foi considerada livre e justa por observadores eleitorais, entre eles a Organização dos Estados Americanos, e os EUA e dezenas de outros países reconheceram a vitória de Lula. Porém, diversas questões relativas a parcialidade e transparência do processo eleitoral nunca foram respondidas pelas autoridades competentes.

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Especulações e incertezas consideráveis cercaram os planos de Bolsonaro. O ex-presidente de 67 anos chegou aos EUA com um visto diplomático e passou mais de um mês na Flórida na casa de amigos, um dos quais é um especialista brasileiro em artes marciais.

Durante sua estada, Bolsonaro postou nas redes sociais vídeos de sua rotina nos Estados Unidos.

Políticos e autoridades de oposição brasileiros acusaram Bolsonaro de incitar tumultos em janeiro com postagens nas redes sociais que alertaram sobre fraude eleitoral. Em 8 de janeiro, multidões de pessoas – muitas das quais expressaram apoio a Bolsonaro – invadiram prédios do governo na capital brasileira, incluindo a Suprema Corte e o Congresso. Os promotores que investigam o papel de Bolsonaro nos tumultos se recusaram a comentar sobre seus planos de retornar ao Brasil.

Bolsonaro, que estava na Flórida quando os tumultos ocorreram, disse que é inocente de qualquer irregularidade e disse que saudou uma investigação dos eventos de janeiro. “Eu nem estava lá, e eles querem colocar isso em mim!”, disse ele.

Ele disse estar consternado com a violência, que condenou na época em um post no Twitter. Mas ele disse que era errado dizer que os ataques equivaliam a uma tentativa de derrubar o governo de Lula.

Golpe? Que golpe? Onde estava o comandante? Onde estavam as tropas, onde estavam as bombas?”, questionou.

Depois de perder a eleição em outubro, Bolsonaro manteve um perfil discreto, mesmo quando caminhoneiros que o apoiavam bloqueavam rodovias e apoiadores se reuniam em bases militares pedindo ao Exército que interviesse e instalasse Bolsonaro como presidente.

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Bolsonaro disse que ficou surpreso com sua derrota, dada a forte atuação de seu partido nas disputas estaduais e parlamentares. “As pessoas estavam comigo, o agronegócio estava comigo, a maioria dos evangélicos estava comigo, a indústria estava comigo, os proprietários de armas estavam comigo”, disse ele.

Ele disse que se vê agora como “o líder nacional da direita – não há mais ninguém no momento”. Ele disse que apoiaria candidatos conservadores em mais de 5.000 vilas e cidades antes das eleições municipais do próximo ano.

“Bolsonaro ainda é um líder muito popular… ele ainda tem a capacidade de reunir milhões e milhões de pessoas”, disse Leonardo Barreto, analista político de Brasília, que disse que o ex-presidente pode causar problemas para o governo de Lula se ele lançar um movimento de resistência organizado em casa.

Mas muito também dependerá das batalhas legais de Bolsonaro e de seu poder de fogo financeiro para combater tantos casos legais na Justiça, disse Barreto.

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Falando em um prédio de escritórios no centro de Orlando, com guarda-costas e um assessor sentados nas proximidades, Bolsonaro falou longamente sobre Lula da Silva, que cumpriu dois mandatos de 2003 a 2010 e deixou a presidência com um alto índice de popularidade. Ele foi condenado por corrupção, mas libertado da prisão em 2019 por uma questão técnica.

Ele minimizou a visita de Lula à Casa Branca na semana passada. “Lula só veio aqui para estar no centro das atenções”, disse Bolsonaro, usando o apelido do presidente.

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Questionado se teria feito algo diferente durante sua presidência, Bolsonaro refletiu sobre sua gestão da pandemia de Covid-19, que matou 700 mil brasileiros, segundo dados do governo. Bolsonaro chamou a Covid de “uma gripezinha” e frequentemente minimizou os perigos.

Se fizesse isso de novo, disse Bolsonaro: “Eu não diria nada, deixaria a questão para o Ministério da Saúde”. Ele se lembrou de uma piada que ele fez sobre vacinas transformando pessoas em crocodilos. “Era apenas uma figura de linguagem… e eu fui martelado por isso”, disse ele.

Ele disse que ainda está indeciso sobre se concorrerá à presidência novamente, acrescentando que o trabalho é “muito mais difícil” do que ele imaginava. Bolsonaro disse que está ansioso para chegar em casa, mas reconheceu os riscos legais.

“Uma ordem prisional pode vir do nada”, disse Bolsonaro. Ele contou o caso de seu antecessor, o presidente Michel Temer, que foi preso preventivamente por vários dias relacionado a alegações de corrupção depois de deixar o cargo no final de 2018. Temer negou as acusações.