A deterioração da segurança para o transporte no mar Vermelho fez com que o Qatar, maior exportador mundial de gás natural liquefeito, suspendesse o trânsito de seus navios com o produto pela região nesta segunda (15).
Segundo a QatarEnergy, empresa que explora com a ExxonMobil americana o maior campo de produção de gás do mundo, com 10% das reservas conhecidas e 208 poços, quatro navios foram ordenados a parar e esperar o desenvolvimento da situação.
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Isso é um problema em particular para a Europa, que passou a comprar gás qatari e dos Emirados Árabes Unidos para substituir o produto russo, do qual buscou reduzir a dependência após Vladimir Putin invadir a Ucrânia em 2022. Ainda assim, até ironicamente, os europeus ainda compram uma parte de seu gás da Rússia por meio de gasodutos que passam pelo território ucraniano.
A crise no Oriente Médio decorre da guerra Israel-Hamas, que completou cem dias no domingo (14). Aliados do grupo terrorista palestino e como ele bancados pelo Irã, os rebeldes houthis do Iêmen passaram a atacar embarcações mercantes naquelas águas desde 19 de novembro passado.
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Os Estados Unidos, Reino Unido montaram com outros países uma força-tarefa naval para tentar proteger rotas comerciais. Na sexta (12), os dois aliados principais fizeram o primeiro ataque a bases e instalações militares dos houthis na guerra, empregando mísseis lançados de navios, submarinos e caças.
Um segundo ataque, de menor intensidade, ocorreu no sábado (13), mas os houthis não se acanharam. Na sexta e no domingo (14), lançaram mísseis contra navios na região. O episódio do fim de semana foi uma ação militar pura, direcionada contra o destróier americano USS Laboon, um dos que mais abate drones e mísseis na região.
Um míssil de cruzeiro antinavio foi interceptado por um caça americano. Diferentemente do que ocorreu em outros episódios, a aeronave dos EUA não foi lançada pelo porta-aviões USS Dwight Eisenhower, mas sim de uma base terrestre não relevada na região –o primeiro engajamento do tipo e um sinal de que o conflito está ganhando complexidade.
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Ainda que pontuais, as duas ações que se somaram a 26 ataques anteriores mostram que os houthis seguem desafiando o Ocidente. Nesta segunda, o ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, disse ao Parlamento que a política dos aliados será a de “esperar para ver”, e que Londres não tem interesse em entrar numa guerra com os houthis.
O grupo, aderente do ramo minoritário do islamismo chamado xiismo como 40% da população do país e a maioria da do Irã, luta uma guerra civil pelo controle do país desde 2014. Domina a capital, Sanaã, e a porção oeste do território, que margeia o mar Vermelho, e hoje vive um precário cessar-fogo patrocinado pela Arábia Saudita, que apoia militarmente o governo reconhecido.
Segundo seu discurso, os ataques miram apenas navios que representem interesses comerciais de Israel, mas a situação agora é de anarquia generalizada. Resta saber se o que Shapps descreveu como um “golpe dado aos houthis” com os bombardeios anglo-americanos terá efeito em reduzir a intensidade das ações.
O impacto comercial desta frente da guerra é significativo. Antes da decisão qataris sobre o gás, diversas empresas petroleiras desviaram seus navios ligando o Oriente Médio à Europa por rotas alternativas em torno da África, o que aumenta o custo do frete e o tempo de viagem –no caso do Qatar, são adicionados 9 aos 18 dias usualmente consumidos no trajeto.
Há outros efeitos. Nesta segunda, a fabricante de carros japonesa Suzuki anunciou que terá de paralisar a produção em sua fábrica em Esztergom, na Hungria, devido ao atraso na chegada de motores e componentes para os automóveis por mar.
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Cerca de 15% do comércio marítimo do mundo passa pela região. No canal de Suez, que liga o mar Vermelho ao Mediterrâneo, o trânsito caiu 90% até aqui –má notícia adicional para o Egito, que o controla e aufere R$ 50 bilhões anuais em pedágios.
O preço das commodities energéticas também sofre com a crise, mas ainda estão sob controle. Como os depósitos de gás europeus estão em altos níveis, cortesia do pavor de ficar sem aquecimento com a crise na Ucrânia, houve uma queda marginal nos preços futuros nesta segunda. Sem desabastecimento de petróleo, houve estabilidade após uma subida decorrente dos ataques de sexta.
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