O deputado federal André Janones (Avante-MG) praticava a rachadinha desde 2019, segundo dois de seus ex-assessores. Em entrevista ao jornal O Globo, Cefas Luiz Paulino e Fabrício Ferreira de Oliveira disseram que o deputado cobrava até 60% dos vencimentos dos servidores lotados em seu gabinete.
Segundo Paulino, que trabalhou no gabinete de Janones de fevereiro de 2019 a outubro de 2022, com um salário de 19.562 reais, os pedidos para repassar parte do salário começaram no início de 2019, logo após a posse do deputado para seu primeiro mandato. O ex-assessor disse que a responsável por arrecadar os valores dos assessores de Janones era Leandra Guedes (Avante), atual prefeita de Ituiutaba, em Minas Gerais, e aliada de confiança do parlamentar.
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“O primeiro pedido ocorreu em 5 de fevereiro de 2019, logo após sua primeira eleição. Depois disso, todos passaram a repassar uma porcentagem de seus salários em dinheiro vivo, sem realizar transferências bancárias para Leandra. Mesmo aqueles que ganhavam menos também contribuíam proporcionalmente, inclusive com o décimo terceiro salário“, afirmou Paulino ao jornal carioca.
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Além disso, segundo o ex-assessor, Janones passou a solicitar que os servidores pagassem suas despesas pessoais em vez de enviar parte do salário diretamente a ele. Paulino afirma que nunca chegou a repassar os valores.
“No final de 2021, começamos a pagar do nosso próprio bolso despesas como hospedagem do site e alimentação do deputado. O objetivo era não caracterizar o repasse de forma tão explícita. Era Leandra quem cuidava da contabilidade dos gastos que cada um deveria ter e coordenava os saques realizados na primeira fase da rachadinha“, disse.
Segundo o ex-assessor, que atuou no gabinete entre fevereiro de 2019 e dezembro de 2021, além das despesas normais, os servidores eram obrigados a fazer doações financeiras ao partido Avante, ao qual Janones é filiado.
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Outro ex-assessor, Fabrício Ferreira de Oliveira, diz que começou a trabalhar com Janones em 2018 de forma voluntária e passou a integrar oficialmente seu gabinete após a eleição em 2019. Ele deixou o cargo em dezembro de 2021 com um salário mensal de 9.460 reais. O ex-assessor afirma que, inicialmente, Janones tentava tratar o assunto com cautela, para evitar a caracterização de rachadinha.
“De início, Janones tratava o assunto com muitos cuidados, ele colocava panos quentes para não caracterizar rachadinha. Eu estava entrando na vida pública, não conhecia o crime de peculato, não sabia o que era uma rachadinha e as implicações da sua ilegalidade.
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Os repasses dos valores recebidos chegaram a 60% dos totais dos salários, inclusive do 13º. Janones e a Leandra chegaram a obrigar funcionários a fazer contribuições mensais ao Avante, com parte dos seus salários.
O pedido, na primeira fase do esquema, era para que o dinheiro sacado em espécie fosse repassado na casa de outros funcionários, em uma ou duas parcelas“, afirmou Oliveira.
O ex-assessor disse a O Globo que os repasses dos valores recebidos chegaram a representar até 60% dos salários dos servidores, inclusive do décimo terceiro salário. Além disso, Janones e Leandra teriam obrigado os funcionários a fazerem contribuições mensais ao Avante usando parte de seus próprios salários. Segundo o ex-assessor, na primeira fase do esquema, o dinheiro sacado em espécie era repassado na casa de outros funcionários em uma ou duas parcelas. (VEJA VIDEO)
Conselho de Ética de julgar cassação de Janones
O Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, pretende solicitar a cassação de Janones no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e também no Supremo Tribunal Federal (STF). Além das acusações de rachadinha, o PL utilizará como base para o pedido de cassação as informações contidas no livro de Janones, que revelam sua suposta divulgação de fake news durante a campanha eleitoral de 2022.
Em áudios divulgados pelo site Metrópoles, na última segunda-feira, 27, o deputado sugere que os servidores utilizem parte dos salários recebidos da Câmara para quitar dívidas de campanha.
No entanto, Janones nega veementemente qualquer irregularidade e afirmou nas redes sociais que o pedido mencionado na gravação foi feito antes mesmo de sua eleição, em 2018, para pessoas que ainda não trabalhavam em sua equipe. O parlamentar também destacou que não colocou a sugestão em prática, pois foi “vetada” por sua advogada.