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Depois de recuar sobre forçar a indicação do ex-ministro Guido Mantega para o cargo de CEO da Vale, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai agora tentar pelo menos convencer a mineradora a adiar a decisão sobre quem vai comandar a empresa. O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, marcou reunião com o presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel André Stieler, para a semana. Nesta quarta-feira a empresa chegou a cair 1% em dado momento da manhã.

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Também vai participar o conselheiro da Vale (VALE3), Manuel Lino Silva de Sousa, conhecido como Ollie Oliveira, que representa e lidera os independentes dentro da companhia.

Pelo cronograma que já estava decidido pela Vale, o Conselho de Administração da empresa terá uma reunião ordinária nesta quarta -feira para tratar de assuntos diversos.

Mas na sexta- feira 2, está marcada uma reunião extraordinária do CA com o objetivo específico de definir quem estará no comando da mineradora, cujo presidente atual é Eduardo Bartolomeo.

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Para o governo, o ideal é ganhar tempo para tentar propor uma troca de comando que interesse ao Palácio do Planalto. Lula enxerga a Vale como uma companhia essencial para ajudar a alavancar o modelo de crescimento que defende para o Brasil. O presidente da República deseja essa empresa atuando em áreas que considera de interesse nacional, apoiando projetos que possam ter sinergia com a nova política industrial recém-anunciada.

Esse tipo de estratégia de Lula incomoda o mercado financeiro. A Vale é uma companhia privada e com participação reduzida de capital estatal. Na última quinta- feira 25, com a repercussão negativa sobre a eventual ida de Guido Mantega para a Vale, o Palácio do Planalto foi palco para uma reunião reservada entre Lula, o ministro Alexandre Silveira e o presidente do Conselho de Administração da mineradora, Daniel Stieler.

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No encontro da quinta- feira passada, diferentemente do que foi propagado pelo governo, Stieler não disse de maneira dura que Mantega não seria eleito para ser o novo presidente da companhia. Apenas relatou o que seriam as consequências da mudança neste momento por causa da forma como estavam sendo conduzidas as conversas. Lula fez um recuo tático.

Stieler já foi presidente da Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil. Segundo apurou o Poder360, a decisão política sobre o recuo na indicação de Mantega coube exclusivamente a Lula. O presidente entendeu que seria muito arriscado fazer esse tipo de pressão neste momento. Mas ainda não desistiu de influir no processo.

Até antes do recuo de Lula, o ministro Alexandre Silveira havia atuado nos últimos dias para pressionar, até em tom de ameaça velada, alguns dos acionistas privados da Vale. Silveira estava apenas cumprindo ordens de Lula. Na linguagem da esquerda, o ministro se tornou um tarefeiro do presidente. Dispõe-se inclusive a negar em público o que todos sabem em privado, como quando disse na sexta-feira 26, não ser verdade que havia conversado com conselheiros da Vale.

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Político de 53 anos, nascido em Belo Horizonte (MG), ex-deputado federal e filiado ao PSD (presidido por Gilberto Kassab), o ministro de Minas Gerais já foi filiado no passado ao PPS, sigla que nasceu do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro). Silveira é o típico político mineiro: trafega com facilidade por várias ideologias.

Ele e a mulher, Paula, desenvolveram uma relação de proximidade com o presidente da República e também com a primeira-dama, Janja. É hoje um dos 38 ministros com mais acesso a Lula.

Caberá agora a Silveira reverter a derrota do Planalto nessa 1ª tentativa de incursão do governo petista na Vale. O ministro terá a semana que começa para convencer a mineradora a evitar definir neste momento a recondução de Eduardo Bartolomeo como CEO da empresa –ou seja, cancelar a reunião do Conselho de Administração marcada para sexta-feira 2.

O mandato de Bartolomeo termina no fim de maio de 2024. Há tempo, portanto, para o governo voltar a atuar e interferir no processo. Ocorre que em companhias globais e com capital em Bolsas de Valores, como a Vale, é incomum deixar uma decisão dessa magnitude para a última hora.

Tudo é planejado com muita antecedência. Essa tentativa de atrasar o processo sucessório na Vale pode ter algum impacto no mercado. É que será prolongado o período de dúvidas sobre qual será o rumo da companhia. Dentro da empresa, uma solução considerada plausível e desejável seria prorrogar o mandato de Bartolomeo por mais 1 ano.

Tudo dependerá de como vão evoluir as conversas nos próximos dias. Lula segue convencido a não abandonar a ideia de ter a Vale como uma das âncoras de seu modelo de desenvolvimento para o Brasil, o que inclui grandes empresas ajudando o Estado a ser o indutor da atividade econômica.

Como é praxe durante episódios como esse envolvendo o governo e uma grande empresa, Brasília foi palco de rumores sobre possíveis nomes alternativos para a cadeira de presidente da mineradora.

Entre os nomes especulados de maneira esparsa e sem comprovação estão o de Murilo Ferreira (que presidiu a mineradora de 2011 a 2017, tendo sido indicado por Dilma Rousseff).

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Outro que também tem sido mencionado é o ex-presidente da Cosan, Luiz Henrique Guimarães. O certo no momento é que o nome de Guido Mantega parece fora do jogo. Ministro da Fazenda de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, de março de 2006 a janeiro de 2015, o nome de Mantega ficou associado às chamadas “pedaladas fiscais” que levaram ao impeachment da petista, em 2016.

O cargo de CEO da Vale tem remuneração anual de R$ 59 milhões, o equivalente a um salário mensal de R$ 4,9 milhões. A empresa é a 2ª maior do mundo no negócio de minério de ferro.

A pressão do governo Lula sobre a Vale

Enquanto vigorou a estratégia defendida por Lula para emplacar Mantega na Vale, Silveira falou com vários acionistas privados da empresa. Dizia que seria bom para a Vale ter no comando alguém com trânsito no Planalto, e que isso seria positivo também para os negócios dos acionistas privados (muitos dependem de decisões da administração federal).

A União tem uma pequena participação na mineradora a Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, tem hoje 8,7% de participação no controle da Vale e duas cadeiras das 12 no Conselho de Administração.

O governo decide a escolha da Previ, mas o peso é muito pequeno. Aos poucos, Lula tem mandado a Previ voltar a ter proeminência na mineradora.

No fim de 2022, o então presidente da República, Jair Bolsonaro, e o então ministro da Economia, Paulo Guedes, já tinham reduzido a participação da Previ para 8,6% na Vale. Quando o Bolsonaro começou seu mandato, em 2019, a participação estatal total no governo era de 26,5%.

Outro aperto que o governo Lula deu na Vale, já sinalizando que poderão dialogar, é sobre a aplicação de uma cobrança bilionária na empresa.