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Copom mantém taxa Selic a 13,75% ao ano. Foi a primeira reunião desde a apresentação pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva do novo arcabouço fiscal – regra que deve substituir o teto de gastos no controle das contas públicas.

A maioria dos especialistas do mercado esperava que os cortes da Selic ocorressem somente em setembro – por causa do índices de inflação, ainda altos, e da indefinição em torno das regras fiscais do governo, ainda em tramitação no Congresso.

“O Copom segue vigilante sobre a inflação, avaliando estratégia de manutenção da taxa básica. O comitê segue avaliando se manutenção por período prolongado assegurará convergência”, diz o comunicado. “O Copom reforça que irá perseverar até que se consolide desinflação e ancoragem.”

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Desde a última reunião, em março, os membros do Copom têm reiterado que as condições para a queda dos juros básicos ainda não estão postas no Brasil. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem dito que a desaceleração da inflação tem sido lenta e que é preciso redução das expectativas inflacionárias, que já “fugiram” muito da meta.

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No último Boletim Focus, a projeção de inflação para 2023 era de 6,05% – bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022. Para 2024, a previsão de mercado é de 4,18%, o que já supera o centro da meta de 3,00%, mas está dentro do limite máximo de tolerância, de 4,50%.

No âmbito fiscal, a proposta de novo arcabouço foi considerada um passo na direção certa por Campos Neto. Mas o projeto ainda precisa ser aprovado no Congresso e não será fácil, com um governo enfraquecido.

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“Copom não hesitará em retomar ajustes” se inflação subir
O comunicado vai além e alerta até para a possibilidade de voltar a aumentar a alta dos juros: “O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”

O comunicado faz uma sinalização ao governo sobre a política monetária: “O comitê avalia que conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária.”

O texto sobre a decisão do Copom cita ainda a volta de cobrança de imposto de combustíveis e a apresentação do arcabouço fiscal: “Reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária.”

E pondera: “O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.”

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“Ambiente externo adverso”
O Copom acrescenta: “O ambiente externo se mantém adverso. O episódio envolvendo bancos no exterior tem elevado a incerteza, mas com contágio limitado.”

Ainda sobre o cenário internacional, os diretores do BC enfatizaram que os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

No caso do quadro doméstico, o comunicado salientou que o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho.

O colegiado ainda repetiu que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e reforçou o compromisso com as metas. “Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.”

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“A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, observou o Copom.

Os 44 analistas de mercado ouvidos pelo Projeções Broadcast na última semana previam de forma unânime manutenção da taxa Selic em 13,75% nesta reunião do Copom. Apesar da pressão do governo pela redução dos juros, a autoridade monetária continua indicando que as condições para a queda dos juros ainda não estão postas e que é preciso ver uma queda mais consistente da inflação e das expectativas de inflação.

A partir deste Copom, o BC deve mirar somente o ano de 2024 em sua estratégia de convergência da inflação à meta. A deterioração de expectativas para esse horizonte e para prazos mais longos foi estancada nas últimas semanas, mas as projeções já superam bastante as metas estabelecidas. O BC já descumpriu seu mandato de controle de preços em 2021 e 2022 e vai pelo mesmo caminho para 2023, conforme a estimativa mediana do Boletim Focus.

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Foi o que disse também o comunicado desta quarta: “O Comitê entende que essa decisão de manter a Selic em 13,75% é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024.”

Segundo a pesquisa do Projeções Broadcast, a maioria das instituições consultadas (74%) prevê início dos ciclo de cortes da Selic ainda em 2023. Seis de 42 casas (14%) projetam redução da taxa no segundo trimestre deste ano, 19 (45%) no terceiro e seis (14%) no quarto. Outras onze instituições esperam cortes só em 2024: nove (21%) no primeiro trimestre do ano e seis no segundo (6%). No Boletim Focus, a expectativa mediana é de início de cortes em setembro, com a taxa terminando 2023 em 12,50%.

A reunião do Copom deste mês para decidir sobre a Selic teve dois desfalques. A cadeira de Política Monetária está vazia desde a saída de Bruno Serra, no fim de março, e espera a indicação de um nome pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A diretora de Administração, Carolina Barros, também está ausente, mas devido à morte de um familiar.